2246- Podemos escusar a aprovação dos homens quando temos a de Deus e a da nossa consciência.
2247- A bênção de Deus é um capital imenso que nos abastece de tudo, e não permite que tenhamos falta de coisa alguma.
2248- A velhice não tem graça; quando muito, tem juízo ou prudência.
2249- Não são somente os cegos que não vêem, mas também os que, tendo vista, não têm juízo.
2250- Guardai-vos das Circes: prometem prazeres e propinam venenos.
2251- Há mentiras escandalosas que se coonestam com os nomes de hipérboles e exagerações.
2252- A virtude estudada é melhor observada.
2253- Os ambiciosos do poder são como os meninos que, correndo após borboletas e pirilampos, tropeçam, caem, e são maltratados por muito tempo.
2254- Não sabemos quanto valemos e de que somos capazes: as ocasiões e circunstâncias no-lo fazem conhecer.
2255- Tudo o que é, por isso mesmo que existe, está compreendido, coordenado e harmonizado no sistema geral da natureza.
2256- A beleza corporal ou material é sempre a mesma e uniforme, a intelectual tem fases sucessivas e uma variedade portentosa.
2257- Jogo, amor e ambição nivelam por algum tempo as condições.
2258- Há pessoas cuja aversão e desprezo honram mais que os seus louvores e amizade.
2259- Os homens de curto saber são tão obstinados nas suas opiniões, como dóceis e flexíveis os de vasta ciência e conhecimentos.
2260- Os homens de maior saber e engenho são os que têm variado mais vezes de opiniões e doutrinas: a ignorância é estacionaria, pouco ganha ou nada perde.
2261- Os incrédulos e irreligiosos na mocidade tornam-se na velhice intolerantes e supersticiosos.
2262- É mais fácil mentir ou fabular que descobrir verdades.
2263- Os erros também instruem: há muita gente rica de seus próprios desenganos.
2264- O sábio crê incomparavelmente muito mais que os outros homens: as suas crenças porém são fundadas menos na autoridade humana que no testemunho perene e irrefragável da natureza.
2265- Homens há que pretendem distinguir-se entre os literatos, não pela alteza dos pensamentos, a que não chegam, mas pela novidade ou antigüidade das palavras de que se servem, o que lhes granjeia com razão o nome de pedantes ou extravagantes.
2266- Para os escritores eminentes, cada biblioteca é um Panteon.
2267- No mau tempo recolhem-se os animais grados, e aparecem os reptis, insetos e sevandijas.
2268- Os homens de bem e de juízo não se desmentem, os velhacos se contradizem a cada instante.
2269- Em matéria de máximas, a malícia ou malignidade reside ordinariamente naqueles que as aplicam ou exemplificam.
2270- Não admira que os velhacos, servindo-se de todos os meios para chegarem a seus fins, vençam os homens de bem, limitados somente àqueles que lhes permitem as leis, a honra, consciência e probidade.
2271- A natureza não nos engana, somos nós que nos enganamos com ela.
2272- Que aproveita à nossa vida mortal um nome imortal!
2273- A política modernamente não tem custado menos sangue do que a religião em outros tempos.
2274- A idéia geral e instintiva de uma vida futura é argumento irrefragável de sua realidade; se o homem fosse um animal efêmero e inteiramente mortal, não seria capaz de tão sublime pensamento nem de esperanças tão transcendentes: essa vida se verifica porque a concebemos.
2275- Há homens cavaleiros e homens cavalgaduras, aqueles se distinguem por sua inteligência, e estes pela sua força material: uns e outros se prestam recíprocos serviços, e são mutuamente necessários pelas suas qualidades especiais.
2276- Nada revela tanto a corrupção, indignidade e vilania das pessoas e povos, como a sua ingratidão para com os seus mais distintos benfeitores.
2277- Somos por vezes órgãos da divindade e instrumentos de vento que o sopro de Deus faz ressoar e proferir verdades imortais e sobre-humanas.
2278- Nunca nos sentimos tão unidos com Deus como quando nos achamos mais separados dos homens.
2279- Os tolos são para os velhacos como as cifras para as unidades, que as elevam ao valor de dezenas, centenas e milhares.
2280- Os homens não têm dúvida em crer tudo o que se lhes propõe, contanto que os dispensem do incômodo e fadiga de pensar e examinar.
2281- As crenças religiosas inspiram geralmente menos amor e temor de Deus do que incutem terror e medo da divindade: os homens não podem imaginar um poder vastíssimo sem tirania ou despotismo.
2282- O homem que não é exato em tempo, lugar, palavra, serviço e contas, não tem honra, nobreza, caráter nem probidade.
2283- Os homens mais sábios são os que freqüentemente se acusam de ignorância: os charlatães e semidoutos presumem de universais e oniscientes.
2284- Elevai a vossa inteligência à maior alteza possível, dominareis os vossos contemporâneos e as gerações futuras.
2285- Os que mais declamam contra o despotismo e arbitrariedade, são os maiores tiranos quando alcançam autoridade.
2286- Sempre nos achamos em Deus quando nos perdemos na sua imensidade.
2287- Quando moço, admirava os homens; velho, admiro somente a Deus.
2288- O propósito e pratica de bem fazer são os meios mais eficazes para bem viver.
2289- Os desenganos mais úteis são aqueles que nos custaram mais caros.
2290- Não têm permanência o poder e mando alcançados por assalto e violência.
2291- Deus se revela em suas obras assombrosas, e com especialidade nas suas criaturas vivas, sensíveis e inteligentes.
2292- A alegria é expansão, a tristeza contração de vida e coração.
2293- Os moços dormindo sonham com os vivos, os velhos ordinariamente com os mortos.
2294- A guerra tem aliança com a morte, como a paz com a vida.
2295- O beneficio capitulado desobriga o beneficiado.
2296- O governo dos loucos dura pouco, o dos tolos ainda menos que o dos velhacos.
2297- Quando os homens personalizaram os atributos da divindade, criaram o politeísmo.
2298- Não se remedeiam os males de que se não quer saber nem reconhecer a causa e origem imediatas.
2299- Se não houvesse em nós um ser ou unidade distinta da fábrica do nosso corpo, a quem domina e modifica, seríamos incapazes de mentira, fingimento, dissimulação e hipocrisia.
2300- O louvor dos tolos e néscios aflige e desalenta os sábios.
2301- Há erros, como doenças hereditárias, que lavram e se propagam por muitas ou inumeráveis gerações.
2302- Os dias de prazer parecem mais breves que os de dor e mágoa: a nossa sensibilidade alonga e abrevia o tempo.
2303- Deus, infinito em sua sabedoria e poder, vivifica os átomos como animaliza os mundos.
2304- Amores e virtudes são os elementos e princípios constituintes e conservadores das famílias, povos e nações.
2305- Quereis conhecer o juízo? procurai-o nas praças de comércio; aí o achareis em companhia do crédito, ordem, perícia, diligência, economia, exatidão, lealdade e probidade.
2306- Há dias em que nos admiramos da fertilidade do nosso espírito, outros em que nos espanta a sua esterilidade.
2307- A inocência tem uma só fisionomia, a malícia e malignidade muitas e variadas.
2308- Pode julgar-se do caráter e opiniões dos homens pelas máximas que alegam e repetem freqüentemente na sua vida prática e familiar.
2309- O amor e temor de Deus têm por princípio o reconhecimento da sua infinita bondade e justiça.
2310- A guerra civil é talvez uma expurgação social, ou expiação de graves erros, ingratidões, injustiças e crimes das nações.
2311- A temperança forçada da pobreza a salva de muitos males a que o epicurismo da riqueza está sujeito.
2312- Pretender melhoramentos materiais antes dos morais e intelectuais é querer que os efeitos precedam as causas.
2313- Tudo vive no universo: a vida, emanada da divindade como a luz do sol, penetra e se difunde por toda a imensidade.
2314- É quando melhor conhecemos o valor da vida que ela se nos torna menos cômoda e mais gravosa.
2315- O homem leviano e inconstante diz, desdiz-se e contradiz-se a cada instante.
2316- O coração é melhor nas mulheres que a razão nos homens.
2317- Os homens concebem na cabeça, as mulheres no seu ventre.
2318- Avaliamos os outros homens pelas nossas idéias e paixões: este o motivo que faz ordinariamente inexata ou injusta a nossa avaliação.
2319- Aquele que atraiçoou a sua pátria natal, não pode ser patriota leal e sincero da alheia e adotiva.
2320- A melhor doutrina é aquela que nos faz melhores e mais justos.
2321- Todas as substâncias compostas são mortais, as simples e elementares, imortais.
2322- Que onipotente aliança, a aliança com Deus! Príncipes da terra, buscai alcançá-la e sereis invencíveis.
2323- Há verdades morais de suma importância, que só uma experiência dolorosa as pode e sabe demonstrar.
2324- As cãs ornam as cabeças dos homens, e desencantam as das mulheres.
2325- A natureza é misteriosa porque o seu autor é também incompreensível.
2326- Se formos puros perante Deus, seremos felizes apesar dos homens.
2327- Cuidemos em ser vivendo o que desejaríamos ter sido morrendo.
2328- Quando dormimos sem sonhar não temos a consciência de que existimos.
2329- Em um mundo em que tudo é mudável por essência e natureza, os que sofrem devem esperar, os que gozam, recear.
2330- Sabei vencer-vos, dominareis os outros homens.
2331- É condição essencial da sabedoria ser expansiva e difusiva como a luz do sol.
2332- Os talentos não valem as virtudes que os dispensam.
2333- Os moços sonham mais acordados do que os velhos não quando dormem.
2334- A ingratidão desanima e estreita a beneficência.
2335- Em todos os vossos revezes e contratempos recorrei a Deus, e reconhecereis sempre a sua paternal e onipotente beneficência.
2336- Gozar e não sofrer é o voto geral dos homens: mas sobre os meios de conseguir os bens e evitar os males variam as opiniões de todos.
2337- Não podemos conhecer e avaliar a felicidade sem haver tomado lições na escola da adversidade.
2338- A prudência é virtude em poucos e fraqueza em muitos.
2339- Os mais ambiciosos de autoridade são os menos capazes de bem a exercerem.
2340- A velhice, quando não melhora, deteriora os homens.
2341- Quem tudo sabe não pode ser mortal: a onisciência lhe assegura a imortalidade.
2342- Não vos vingueis, esperai que vos vinguem, e sereis vingados.
2343- Os moços estouvados são menos incômodos do que os velhos imprudentes.
2344- Os velhacos que se conhecem não desejam ser conhecidos.
2345- Os jacobinos federalistas se transfiguram de mil modos, até mesmo em monarquistas.
2346- Em amor, o heroísmo das mulheres não tem igual nos homens.
2347- Os velhos não pertencem às gerações novas, são ruínas ou fragmentos das antigas.
2348- Pouco saber faz o homem popular, nímio saber o constitui impopular.
2349- É anacronismo escandaloso um velho charlatão, vanglorioso, revolucionário e ambicioso.
2350- A prudência supre a força que falece na velhice.
2351- O mundo é tão pequeno para o nosso pensamento, que este, em poucos instantes, o viaja todo inteiro.
2352- Este século pode ser denominado o do papel; tão importante e geral é o uso e abuso que dele se faz.
2353- Quando nos lembramos do passado, receamo-nos do futuro.
2354- Tudo se vende no grande mercado deste mundo, menos juízo, o que falta a muita gente e não sobeja a ninguém.
2355- Os velhos imprudentes são também ordinariamente insolentes.
2356- A vida empobrece a muitos, a morte enriquece a alguns.
2357- Quem mais estudou o passado melhor sabe e pode ler no futuro.
2358- A história é a bibliografia da espécie humana.
2359- A fraqueza é a arma defensiva das mulheres.
2360- Não há melhor companhia que a de uma livraria escolhida.
2361- As monarquias acumulam e se engrandecem, as democracias se dividem e se enfraquecem.
2362- Quem não tem juízo perde o seu e não ganha o alheio.
2363- A ambição, que enobrece a uns, envilece a outros.
2364- O ceticismo, de que alguns se gloriam, não é outra coisa mais do que ignorância ou idiotismo.
2365- O nosso pensamento, sentindo-se abafado no ar mefítico da terra, parte, voa, atravessa o éter misterioso das regiões celestes, descobre inumeráveis sóis, mundos sobre mundos, céus sobre céus, e não achando limites ao universo, adora absorto o seu divino autor, e se perde na sua imensidade.
2366- Na argumentação ordinária, o que mais grita não é o que tem mais razão.
2367- Prever e adivinhar é mais difícil em política do que em moral.
2368- Os médicos são algumas vezes os executores involuntários da sentença de morte decretada pela natureza contra todos os homens sem exceção de algum.
2369- Ninguém pode ser bom que não seja também justo: a bondade não exclui, compreende necessariamente a justiça.
2370- Agradecei a Deus não somente os bens, mas também os males que vos sucedem, na certeza de que o mal não é nem pode ser fim e objeto dos desígnios e determinações de um ente perfeitíssimo, e necessariamente bom, sendo, como é, infinitamente sábio e poderoso, mas instrumento, ocasião, meio ou veículo talvez indispensável para o bem das suas criaturas vivas e sensíveis, ordem e harmonia deste mundo.
2371- Quem tudo sabe e pode é necessária e essencialmente bom: tal é Deus.
2372- Vivificar para felicitar é a divisa e exercício eterno da divindade.
2373- O universo ou a criação universal é o mesmo Deus simbolizado, objetivo e revelado.
2374- O sábio avista a Deus em toda a parte, o néscio não o descobre em nenhuma.
2375- Existimos para gozar, morremos quando gozamos menos do que sofremos.
2376- A ambição cativa os homens vendem por baixo preço aos que especulam nos seus serviços.
2377- Padecendo na velhice pagamos à moral e à natureza o saldo de contas que lhes devemos.
2378- As doenças humilham o nosso orgulho, a morte finalmente o derroca.
2379- Este mundo é o das metamorfoses, nada se aniquila, tudo se transforma.
2380- A luz dissipa as trevas e aparecem os objetos, a razão os erros e reluzem as verdades.
2381- Em ciência, espaço e idade devagar se vai ao longe.
2382- Homens há que não têm outro mérito que o da sua filiação: são filhos de seus pais e nada mais.
2383- Temos o usufruto da vida, a propriedade é de Deus.
2384- As paixões são instintos que a razão deve dirigir e regular, mas não suprimir.
2385- As sociedades secretas têm o mau cheiro da sua qualificação.
2386- O nascimento é uniforme, a morte variada em todos.
2387- A força, que sobeja na língua, falta ordinariamente nos braços.
2388- A paixão dominante nas mulheres é o amor, nos homens a ambição.
2389- Os sábios pensam por muitos em beneficio de todos.
2390- A ciência é cavaleira, a ignorância cavalgadura.
2391- O sopro da morte apaga o lume da vida.
2392- Os cetros de ferro a ferrugem os consome.
2393- Que lições nos cemitérios! os ossos dos mortos ensinam e desenganam os vivos.
2394- Virgulamos na vida os nossos males com lágrimas, mas deixamos os nossos bens sem pontuação nem acentos.
2395- O instinto nas mulheres é mais poderoso que a razão nos homens.
2396- Os títulos ilustram a muitos e são ilustrados por poucos.
2397- O sábio nas monarquias é o súdito menos cortesão, e o mais leal.
2398- Nem os males correspondem ordinariamente aos nossos receios, nem os bens às nossas esperanças: somos muito exagerados em temer e esperar.
2399- O pobre se acanha e parece humilhado perante o rico; o mesmo sucede aos néscios em conjunção com os doutos.
2400- O velho achacado vive meio amortalhado.
2401- Os meninos sobejam onde estão, e faltam onde não se acham.
2402- Os sábios tornam-se incomunicáveis não podendo dizer verdades nem contradizer disparates.
2403- Deus é a imensidade: tudo nela se forma e se resolve.
2404- A monarquia tranqüiliza os homens bons e leais, a democracia esperança os traidores e desordeiros.
2405- Atores por breve tempo no teatro deste mundo, os homens fazem rir e chorar a muita gente.
2406- Sabei sofrer, merecereis gozar.
2407- A intolerância religiosa é uma censura, ou condenação da divindade pela sua tolerância universal.
2408- Com uma ignorância enciclopédica homens há que se inculcam por sabedores universais.
2409- A morte é o querubim com a espada de fogo que nos expulsa do jardim da vida humana.
2410- Os anos que uns perdem pela sua morte prematura, outros acumulam por sua velhice prolongada.
2411- A ambição faz enlouquecer os homens, a paixão, de amor as mulheres.
2412- Sofremos talvez mais pelos erros alheios do que pelos nossos próprios.
2413- Estuda-se mais na velhice para bem morrer do que se estudou na mocidade para bem viver.
2414- Não mudamos sonhando de caráter, reconhecemos nos sonhos a nossa identidade.
2415- Os vícios antecipam a velhice, as virtudes a retardam.
2416- O mundo é para o sábio uma lanterna mágica variando constantemente de vistas e objetos para seu recreio, estudo e admiração.
2417- Os erros em religião provêem da falsa idéia que concebemos de Deus: em política, do conhecimento imperfeito que temos da natureza humana.
2418- Vemos nas cidades geralmente as obras dos homens, fora delas diretamente as de Deus: respiramos no campo a divindade.
2419- Todos gozam da vida e do espetáculo da criação, os sábios mais que todos pela ciência e reflexão.
2420- A nossa vida se torna importante quando nos referimos a Deus em todos os seus atos, acidentes e vicissitudes.
2421- Nas monarquias a cabeça rege os membros, nas democracias são os membros que governam o corpo.
2422- As democracias tendem à monarquia como os corpos gravitam para o centro da terra.
2423- A felicidade pela fortuna é de pouca duração; a que provém do trabalho, inteligência, economia e probidade tem maior extensão e permanência.
2424- Raras vezes nos enganamos reputando os males da vida como expiações do nosso mau procedimento ou abusos no exercício dela.
2425- O velho achacado é um padecente, que tem longa residência no oratório.
2426- Uma doença crônica é ordinariamente motivo de uma vida longa pela temperança, abstinência e cautelas em que vivem os pacientes.
2427- Para nos desencantarmos da terra florida, convém que olhemos freqüentes vezes para o céu estrelado.
2428- O sábio vive tão humilhado da sua ilimitada ignorância, como o néscio orgulhoso pela opinião da sua abundosa sapiência.
2429- Devemos felicitar os bons porque são tais, e lastimar os maus porque não são bons: há um fatalismo de circunstâncias na vida humana que muito contribui para a condição e procedimento de uns e outros.
2430- O interesse de poucos traz enganados a muitos.
2431- A poesia fala à imaginação, a filosofia à razão dos homens.
2432- Os velhacos são maus calculistas, deixam a estrada geral e se perdem nos atalhos.
2433- Se a vida é um dom de Deus para gozarmos, a morte, suposta a decadência do nosso corpo, é também outro dom para não sofrermos.
2434- É malefício e não benefício dar liberdade a quem não tem juízo.
2435- Em matérias graves e importantes os homens geralmente preferem ser enganados ao viverem em incerteza: neste pressuposto, surgem sempre loucos, entusiastas, visionários e impostores, que os salvam desse embaraço.
2436- É necessário que os homens sejam o que são, para que o gênero humano satisfaça os fins para que foi criado e existe neste mundo.
2437- Democratas na mocidade, os literatos, geralmente, se tornam monarquistas na velhice.
2438- Enganar e ser enganado é talvez a sorte inevitável do gênero humano neste mundo sublunar.
2439- Por uma condição da natureza humana, cada pessoa em sociedade trabalhando para si, trabalha também necessariamente para ela.
2440- É necessário ocupar os homens, a religião contribui muito para lhes dar ocupação.
2441- A quinquilharia literária ocupa e diverte a muita gente.
2442- Somos passíveis pela vida, inofensíveis pela morte.
2443- A queda dos tronos esmaga as nações.
2444- O sono da morte exclui os sonhos e pesadelos da vida.
2445- O riso e choro são freqüentes vezes contagiosos.
2446- A ignorância nos homens é como a sabedoria em Deus: infinita.
2447- Os maus e viciosos são algozes de si próprios.
2448- Povos há que não são originais em coisa alguma, mas copistas servis, ou ridículas caricaturas das nações estrangeiras.
2449- Os que procuram igualar têm por fim desigualar-se.
2450- As idades extremas se assemelham, uma por insuficiência, a outra por deficiência.
2451- Sentir e pensar são as duas faculdades essenciais da nossa alma unida a um corpo: sem a primeira, a segunda não teria princípio nem exercício.
2452- Os poetas, fabulando e figurando o abstrato, têm feito maior mal à espécie humana, do que os filósofos abstraindo e teorizando.
2453- A providência divina se difunde infinitamente e alcança o mais pequeno inseto infusório ou átomo vivente, como domina o maior dos mundos e o imenso universo.
2454- Avistamos a providência e justiça divina nos menores acidentes, como nos maiores sucessos da vida humana.
2455- As ruínas são neste mundo fecundas e produtivas de obras novas.
2456- Nenhuma religião tem a seu favor a maioria do gênero humano, a qual professa cultos diversos e adversos.
2457- Rimo-nos do acaso, quando sabemos que tudo está coordenado para ser o que é no sistema deste mundo.
2458- A gloria póstuma é um sonho da vida que não alcança os mortos.
2459- É tão limitada a nossa inteligência que sem o contraste dos males não poderíamos avaliar os bens da vida.
2460- A imprudência nos moços promove a sua atividade, a prudência, nos velhos, a sua inércia.
2461- Há uma ilusão muito vantajosa à espécie humana, a esperança individual de uma longa vida.
2462- O que os poetas fabularam, os néscios acreditaram.
2463- O mal dá mais ocupação e quê fazer aos homens do que o bem.
2464- As falsas religiões acham no estudo das ciências naturais o seu maior adversário e contraditor.
2465- Viver é gozar: o simples exercício das faculdades do corpo e potências da alma confere fruição e felicidade.
2466- É coisa muito ordinária pensar bem e escrever mal.
2467- A natureza veste e arma os animais, a inteligência, os homens.
2468- É notável que os homens, inculcados por mais sabedores das coisas do outro mundo, foram os que mais ignoraram as da vida e mundo presente.
2469- É necessário que o mundo material nos ocupe e distraia, o intelectual nos consome sem aquela distração.
2470- Devemos lastimar a sorte e condição dos maus, talvez fôssemos piores do que eles com as mesmas circunstâncias, casos e acidentes da sua vida.
2471- A preguiça perde e não ganha, a diligência ganha e não perde.
2472- A paciência é fácil em quem goza e não sofre, mas difícil em quem padece e não goza.
2473- Os viciosos sujeitos ao jugo de ferro dos seus vícios são os que ordinariamente mais se queixam do despotismo dos que governam.
2474- A inteligência humana, admirável em suas produções intelectuais, ostenta nas livrarias a pompa da sua fecundidade e variedade.
2475- Não basta recomendar aos homens a virtude em abstrato, é necessário exemplificá-la em seus numerosos casos, para que reconheçam na prática os seus graves e salutares benefícios.
2476- O mundo refletido e meditado é mais admirável e admirado.
2477- A posse ou fruição em sonhos de um bem que muito desejamos, ainda que ideal e fantástica, amortece ou extingue freqüentes vezes o desejo veemente que nos incomodava a seu respeito.
2478- Amando os objetos vivos e sensíveis, não devemos esquecer-nos de que são mortais, e que havemos de perdê-los pela sua ou nossa morte.
2479- Tudo é finito e limitado para os olhos, o infinito é avistado somente pela nossa inteligência.
2480- Ambos consolam e esperançam os homens gravemente enfermos, os médicos e sacerdotes; os primeiros lhes prometem o restabelecimento da saúde, os outros lhes asseguram, no caso de morte, melhor vida no futuro e uma eternidade de bens.
2481- Onde a ciência, virtude e lealdade não têm admiradores, a sociedade é inválida e conquistada pelos néscios, velhacos e traidores.
2482- O vilão exaltado torna-se hirto e enfatuado.
2483- A velhice é a idade dos desenganos, como a mocidade a das ilusões.
2484- Tirai aos homens a vantagem das línguas e idiomas, e os vereis reduzidos talvez à inferior categoria dos bugios e orangotangos.
2485- Quando estamos profundamente convencidos da infinita sabedoria, bondade e justiça de Deus, agradecemo-lhe os mesmos males e dores que nos afligem e atormentam na presente vida.
2486- Nas cortes quem não lisonjeia, pouco granjeia.
2487- Subi a Deus na vossa ventura, Ele descerá a vós na vossa desgraça.
2488- Atraiçoamos os bons quando louvamos ou desculpamos os maus.
2489- A razão humana não vale algumas vezes o instinto dos animais.
2490- Homens há de muita valia, mas que não podem ser avaliados: são os sábios.
2491- Custa a viver na velhice, há uma dificuldade de existir que faz a vida onerosa freqüentes vezes.
2492- Os males da vida são os que nos unem em sociedade, sem eles seríamos insociáveis.
2493- O que não tem extensão não pode ter mobilidade, nem localidade; os espíritos são incapazes de movimento e lugar sem os corpos organizados que os habilitam para isso.
2494- A natureza é a sabedoria de Deus revelada nas suas obras.
2495- A mudez do silêncio fatiga e vence freqüentes vezes a garrulidade da palavra.
2496- O monarca deve ser para os seus povos como o sol, que, presente, comunica luz, calor, ação e movimento a quanto existe na esfera do seu lume perenal.
2497- Os néscios tudo acreditam porque de nada duvidam, os inteligentes são refratários, exigem razão de tudo.
2498- Fazei os homens admiradores de Deus pelo estudo da natureza, e vê-los-eis tornar-se bons e virtuosos por um poder misterioso e irresistível.
2499- A riqueza doura a sabedoria, e a faz mais respeitável à ignorância.
2500- Os velhos não devem pretender poder e mando sobre os outros homens, mas demonstrar que o alcançarão sobre si próprios.
2501- Há muita gente que, como as abelhas, presumem trabalhar para si, quando o produto do seu trabalho é para os outros.
2502- Em matéria de tirania, a menor é a de um ou poucos, a maior, a de todos ou a anarquia.
2503- O homem mais ignorante é talvez o que menos sofre nas vicissitudes das coisas humanas: o pretérito o não aflige, nem o futuro o incomoda.
2504- A vigília é peleja, o sono, armistício, a morte, paz.
2505- Queremos, os velhos, o que não é possível conseguir: viver, descansar e não sofrer.
2506- Onde tudo é ação e reação, é conseqüência infalível a recíproca destruição.
2507- Sem probidade e prudência pouco aproveitam talentos e ciência.
2508- A. memória na velhice perde muito mais do que ganha.
2509- O futuro existe em Deus: é uma evolução perene e eterna no espaço e tempo da sua infinita sabedoria, poder e bondade.
2510- A vida mais breve é talvez a mais feliz como a viagem mais curta, a melhor apetecida.
2511- O genuíno heroísmo é o do homem virtuoso, que espera e confia em Deus.
2512- Tudo é falível neste mundo, menos a esperança e confiança em Deus.
2513- A mulher é formada para amar, o homem para dominar.
2514- Há uma soma de bens e males que se correspondem respectivamente e se tornam necessários para a renovação, conservação e perpetuidade deste mundo sublunar.
2515- Os pródigos, desbaratando o seu, roubam depois o alheio.
2516- Na mocidade, somos obrigados a tolerar as impertinências dos velhos, na velhice, os desvarios e extravagâncias dos moços.
2517- Pelas leis gerais da ordem física e moral, os homens, os governos e as nações têm a sorte e vicissitudes que merecem.
2518- Ainda que não possamos compreender totalmente o eterno, imenso e infinito, temos na idéia do ilimitado em tempo e espaço, noção suficiente do que significam e representam.
2519- As nações, como as pessoas arremedando as outras, se desfiguram a si próprias.
2520- Estudai a natureza, revelação divina, e chegareis a saber o que nenhum homem vos poderia dizer.
2521- Acumulai riqueza, a morte vos forçará a deixá-la: ciência, podeis levá-la na bagagem da vossa alma.
2522- Quem recorre à fortuna desconhece a providência.
2523- Cada um de nós contribui com o seu contingente para o acervo da ciência humana; mas infelizmente este acervo compõe-se geralmente mais de erros e fábulas, do que de verdades.
2524- A ordem pública periga onde se não castiga.
2525- Os afortunados não sabem desculpar os desgraçados.
2526- Sentimos satisfação no que fazemos por devoção, e coação no que executamos por obrigação.
2527- É tal a diversidade da cor verde no reino vegetal, que se torna impossível qualificar, numerar e denominar as suas variedades.
2528- As verdades não fazem seitas, são os erros, fábulas e disparates, que as constituem.
2529- Variedade e reprodução parecem ser os dois principais objetos que ocupam a natureza neste mundo, tão numerosas ou inumeráveis são as providências observadas para que elas não faleçam em tempo algum.
2530- Nos crimes denominados políticos, os mais ativos advogados dos réus são os seus próprios cúmplices e auxiliares.
2531- O absolutismo bem entendido é o corretivo da liberdade mal compreendida.
2532- Um grande mérito intelectual escusa e dispensa a importância vulgar que confere o luxo exterior e pessoal.
2533- Os velhos de caráter firme e saber profundo só se rendem e são vencidos pela morte.
2534- Os festejos públicos divertem os moços e dão motivo à reflexão dos velhos.
2535- Os sábios são loucos de uma superior hierarquia intelectual, ordinariamente insociáveis pelo desprezo ou negligência das fórmulas cerimoniosas, que a civilidade tem estabelecido entre os homens em sociedade.
2536- Ninguém é tão exagerado em suas pretensões como aquele que menos merece ser atendido pela sua incapacidade ou indignidade.
2537- O exercício de caloteiro é de pouca duração: em breve tempo inutiliza a profissão.
2538- Cada vulcão na terra é um farol para o mar.
2539- É coisa pouca o homem quando se considera que a riqueza, nobreza, autoridade e ciência não o podem salvar da morte e fazê-lo imortal.
2540- Se a indústria humana nada faz e produz sem um fim e aplicação especial, como é possível que haja uma só obra ou produto da natureza sem uma destinação benéfica geral ou particular?
2541- O mal é para o bem como a pedra de toque para o ouro, que faz distinguir e avaliar os seus quilates.
2542- A civilidade contribui muito para perpetuar os vícios e defeitos dos homens fingindo desconhecê-los, ou dissimulando a impressão escandalosa que ocasionam.
2543- A prudência exaure a paciência.
2544- As entidades espirituais não podem existir sem corpos organizados que as ponham em relação com o universo material; do que observamos neste mundo podemos inferir o que se passa nos outros globos.
2545- Os males da velhice podem ser considerados como expiações da vida presente no seu trânsito para a futura.
2546- Não admira que os tolos e néscios idolatrem os velhacos, quando os governos, por imprudentes ou fracos, os respeitam e promovem.
2547- Avaliamo-nos sempre mal quando cada um de nós se considera o legítimo padrão da avaliação dos outros homens.
2548- A viagem para a outra vida é a mais cômoda e a menos dispendiosa possível: não exige provisões, bagagem nem condução.
2549- Os curiosos e apaixonados de novidades devem desejar morrer: que de coisas novas, desconhecidas e portentosas, na outra vida e nos outros mundos!
2550- Sabemos pouco da vida presente, e da futura muito menos ou quase nada.
2551- Todos mentimos exagerando para mais ou para menos o que vimos, ou nos disseram.
2552- Escrevendo para nossa glória, trabalhamos em serviço e benefício dos outros homens.
2553- A morte é um grande bem quando a vida se tornou o maior dos males.
2554- A liberdade é como o vinho, pouco fortalece, muito enfraquece.
2555- Uma ciência fabulosa constitui a maior parte da humana sapiência.
2556- A suspensão, remoção ou cessação de um grave mal são reputadas pelos pacientes como um grande bem: deixar de sofrer é também gozar.
2557- Os povos não se contentam com o natural querem o maravilhoso e nunca falta quem os engane inculcando por tal o que existe e se compreende na ordem universal da natureza.
2558- O jogo da vida e eventos no gênero humano é (sic) tão admirável como misterioso; parecendo fortuito, está sujeito às leis de uma ordem maravilhosa, e coordenado de maneira que resulta do seu complexo, prêmio à virtude, castigo ao vício e ao crime.
2559- Os achaques da velhice enfraquecem e eclipsam a nossa razão, e nos entregam sem recurso à influência e autoridade dos néscios, visionários e impostores.
2560- Os que melhor dissertam sobre a virtude não são ordinariamente os mais virtuosos.
2561- A ambição pode muito em uns homens, em outros, a vaidade, em todos, o interesse.
2562- Acautelai-vos das pessoas de uma requintada civilidade, a genuína benevolência tem uma certa rudeza natural que a legitima.
2563- E necessário, para que haja uma história variada do gênero humano, que ele seja o que é, e como foi constituído pela divina sapiência neste mundo planetário.
2564- Gozamos sonhando de bens e prazeres que nunca poderíamos esperar conseguir acordados.
2565- É na velhice que os doutos joeiram os seus conhecimentos adquiridos, e reconhecem com bastante mágoa que poucos têm ou merecem o título de verdades.
2566- Quereis ser sábios, estudai a natureza: justos, estudai a natureza: felizes, estudai a natureza. A natureza é uma revelação perene da divindade.
2567- A morte limita-se à vida corporal e orgânica; a substância misteriosa ou princípio simples, sensível e inteligente que a domina em sua união, pode ser mortal e destrutível, é talvez uma emanação do Ser eterno que a difunde sem exaurir-se.
2568- Os maldizentes serão malditos, como os bendizentes benditos.
2569- O gênero humano é o que Deus quis que fosse, nem mais nem menos.
2570- Nunca se acha tanta ignorância como nas pessoas que presumem saber mais do outro mundo do que deste.
2571- O século da poesia não é ordinariamente o da razão e das verdades, mas o da imaginação, fábulas e ilusões: pode-se unicamente dizer em seu abono que é o precursor da filosofia.
2572- Os homens gozam e sofrem como tais: são premiados e castigados segundo o seu bem ou mal fazer no mesmo teatro da sua representação social.
2573- Quando nos comparamos com os outros homens, o nosso amor-próprio, avaliador suspeito, descobre sempre um saldo a nosso favor.
2574- Todos podem ler na natureza e estudá-la em uma linguagem universal, que tem por alfabeto os sentidos corporais e as potências da alma.
2575- A extensão substancial rarificada se espiritualiza, condensada, se materializa.
2576- Em nada os homens desatinam tanto como em política e religião.
2577- As pessoas distinguem-se também pela voz; esta varia com as idades e nos sexos, e tem um caráter original em cada uma das individualidades de que se compõe a espécie humana.
2578- De que nos serviria a outra vida se o nosso espírito não conservasse o cabedal de idéias e conhecimentos que adquiriu na primeira, e perdesse a memória da sua identidade individual e intelectual?
2579- É notável que em certas e importantes matérias o que os homens presumem saber melhor é o que ignoram inteiramente.
2580- A vida é menos revolucionária do que a morte: esta rompe em um instante a teia dos eventos que aquela fabricou por muitos anos.
2581- A sabedoria confere aos homens uma especial independência pelos prazeres sensuais que escusa, e os intelectuais que possui.
2582- São muitos os homens que, descontentes de si e não podendo viver sós, importunam e incomodam os outros com visitas.
2583- Os males de algumas nações procedem da forma dos seus governos, especialmente depois que publicistas filósofos e utopistas se encarregaram de fabricar-lhes constituições.
2584- Compreender a Deus seria compreender o infinito, a imensidade: criaturas limitadas no espaço e tempo são incapazes de tão sublime compreensão: Deus somente se compreende a si.
2585- São idades fabulosas as da puerícia e adolescência, heróicas, as da juventude e virilidade, racionais, as da madureza e senectude.
2586- A educação das mulheres é mais obra da natureza que a dos homens.
2587- Toda a felicidade vem de Deus: de qualquer modo que gozemos, é sempre de Deus que gozamos, autor de tudo e da nossa vida.
2588- A genuína maioridade é o juízo que a confere, e não a idade.
2589- O castigo acompanha o delinqüente, e, ainda que ronceiro, o alcança finalmente.
2590- Nenhum sucesso é sobre-humano, ou extramundano: tudo o que observamos no jogo social, moral e político das nações é o que deve ser segundo a constituição, natureza e destinação do gênero humano no sistema deste mundo.
2591- Devemos lastimar os maus e agradecer a Deus não sermos tais.
2592- Enganamo-nos com os homens, porque afetam geralmente parecer o que não são.
2593- Viver em tudo com referência a Deus é viver racional e religiosamente.
2594- Do teatro deste mundo saem a cada instante inumeráveis atores aos quais sucedem imediatamente outros para que continuem e se executem sem interrupção os dramas infinitamente variados que nele se representam.
2595- Tudo é falível neste mundo, menos a esperança e confiança em Deus.
2596- A morte equilibra as vidas mantendo umas à custa de outras.
2597- São inumeráveis os céus, cada mundo tem o seu privativo, abrilhantado também de estrelas colocadas ou esparzidas por diverso modo do que se nos representa o que avistamos.
2598- Imaginai outras cores que não sejam o azul nos céus e o verde na terra, e achareis que nenhumas são tão belas, deleitam e fortificam mais a nossa vista do que aquelas.
2599- Se Deus não compreendesse também o universo, este o limitaria deixando de ser imenso e infinito.
2600- Os vícios convivem com os crimes e lhes fazem companhia.
2601- Fala-se muito em economia onde é menos observada, e em liberdade, onde tudo é anarquia.
2602- Há nas famílias, povos e nações do mundo as mesmas vicissitudes e variações como na atmosfera que circunda a terra, onde tudo tende a equilibrar-se sem que possa verificar-se um perfeito equilíbrio e permanente harmonia.
2603- Os traidores se associam, mas não se amam nem se confiam.
2604- Há muitas coisas que os néscios presumem saber, e que os sábios confessam ingenuamente que ignoram.
2605- É na imensidade de Deus que tudo se forma e se resolve para ser renovado e reformado com variedade e novidade por toda a eternidade.
2606- Quando nada esperamos dos homens, mas tudo de Deus, preferimos o retiro e reclusão à sociedade e companhias.
2607- Os lisonjeiros desprezam e aborrecem interiormente aqueles mesmos a quem mais louvam e divinizam externamente.
2608- Os maus exemplos e más doutrinas revertem ordinariamente em dano daqueles que os deram e as inculcaram, e dos povos que as aprovaram ou toleraram.
2609- A reflexão é tão necessária à nossa alma, como a digestão ao nosso corpo.
2610- Os instintos da sociabilidade podem mais que as instituições humanas, e corrigem muitas vezes a sua incongruência ou malignidade.
2611- Não podemos promover e zelar o nosso interesse individual sem cooperar direta ou indiretamente para o geral: não há egoísmo absoluto.
2612- Os vícios inveterados nunca mais são extirpados.
2613- Não podem haver dois infinitos; se o bem é tal, o mal é temporário e limitado.
2614- A velhice nos torna de algum modo independentes do mundo material, embotando os nossos sentidos, e reduzindo muito as faculdades de gozarmos sensualmente.
2615- Somos idênticos nas diversas idades quanto à nossa alma, mas não respectivamente aos nossos corpos.
2616- Se os homens não fossem loucos, a história não teria materiais nem assunto para os seus trabalhos.
2617- A sabedoria é sintética, resume tudo.
2618- A vida nos faz dependentes, a morte nos confere a independência.
2619- Para agradar a todos, fora necessário poder identificar-nos com cada um, o que não é possível.
2620- Nos governos fracos ou mal constituídos, os ambiciosos e anarquistas especulam em insurreições e rebeliões, esperançados na impunidade, anistias e cumplicidade de muita gente associada aos seus planos subversivos e revolucionários.
2621- É péssima especulação querer subir maldizendo: o que assim pensa e obra desce, abisma-se e não sobe.
2622- E necessário que os moços e velhos sejam o que são, para que o gênero humano seja o que dever ser.
2623- A liberdade da imprensa em alguns países é a faculdade de anarquizar, seduzir e sublevar os povos impunemente.
2624- Não devemos lamentar os mortos, que já não sentem, mas os vivos, que padecem porque são sensíveis.
2625- Os homens hábeis para destruir são inábeis para construir.
2626- Os piores revolucionários são os que se abrigam com o manto da monarquia.
2627- Quando deixamos de gozar de Deus? todos os bens e prazeres da vida, ou provenham da natureza ou da inteligência humana, têm Nele a sua origem, causa e fundamento. Deus é o bem universal, e o manancial eterno de todos os bens do universo.
2628- O progresso no conhecimento e amor de Deus pelo estudo, exame e fruição das suas obras maravilhosas, é o que se deve entender por ver a Deus objeto sacrossanto de uma eterna felicidade.
2629- Sem o estudo das ciências naturais ninguém é sábio nem pode sê-lo: todo o saber vem de Deus, e se revela nas suas obras.
2630- A inteligência se limita quando se revela nos corpos figurados que a representam.
2631- A credulidade dos néscios os sujeita à autoridade, promove a sua obediência, e é profícua neste sentido à sociedade.
2632- Não podendo fazer-nos imortais, cuidemos em produzir obras tais que perpetuem a nossa memória com louvor na geração presente e nas futuras.
2633- Amai a Deus que não morre, não idolatreis o que é mortal.
2634- Os maus não têm longa duração: o mal é neles um elemento de indefectível destruição.
2635- Há impostores em literatura como em política e religião: superficiais e interesseiros têm em vista somente os empregos e promoções que esperam conseguir alardeando de literatos.
2636- A mocidade encanta, a velhice desencanta os homens.
2637- Quanta lida para tão pouca vida! assim exclamava um homem quase agonizando. Que reflexões não sugere o dito deste moribundo! Ambiciosos, que vos agitais em um pélago de intrigas e ilusões, ponderai, na verdade deste rifão e sereis desencantados.
2638- É necessário que nos reconheçamos velhos quando somos tais, mudando ou alterando razoavelmente a forma e teor da nossa vida ordinária.
2639- Os moços têm os sentidos agudos, convém-lhes adquirir idéias; os velhos os têm obtusos, deviam já tê-las adquirido.
2640- O espirito é o ponto matemático da metafísica.
2641- Quando se considera que é infinito o que podemos aprender, saber e admirar, e a felicidade progressiva que nos pode resultar do estudo e fruição das obras maravilhosas de Deus por toda a eternidade, nos horrorizamos da idéia falsa e terrível da extinção total do nosso ser depois da nossa morte neste mundo.
2642- Deus nos vê, nos ouve, e conhece os nossos pensamentos e intenções mais secretas: ai de quem o não acredita!
2643- Quando estamos convencidos profundamente da infinita sabedoria e poder de Deus, não há males na vida humana, por maiores que sejam, que não possamos vencer confiados e esperançados na divina bondade e proteção.
2644- Um bem infinito exclui e não consente mal eterno.
2645- Cessa a prudência quando lhe falta a paciência.
2646- Não há lugar vazio na imensidade do espaço, Deus tudo enche e ocupa com a plenitude do seu ser infinito, e a soma ilimitada das suas obras infinitamente variadas e assombrosas.
2647- Não é o morrer que dói, mas o viver padecendo.
2648- A proteção dos maus compromete os bons.
2649- O velhaco não pode ser sincero, a sinceridade faria abortar os seus planos.
2650- Entidades fabulosas, umas boas, outras malignas, incorporadas nas crenças e cultos religiosos, antigos e modernos, foram sempre criaturas da imaginação, ignorância e impostura humana: a razão e natureza debalde as reprovam e recusam, a credulidade dos homens é mais poderosas do que elas ambas.
2651- Devemos amar a Deus por ser bom, temê-lo porque é justo, adorá-lo e admirá-lo por onisciente e onipotente.
2652- As pessoas pobres e indigentes mantêm muitos animais domésticos para exercerem sobre eles o império e mando, que a sua condição não lhes permite ter sobre os outros homens.
2653- Pode avaliar-se o estado moral e intelectual das nações pelas pessoas a quem liberalizam o título de grandes homens.
2654- O homem não seria criatura moral se não fosse social.
2655- A cada instante se desatam da árvore da vida inumeráveis folhas substituídas por outras que de novo brotam, não convindo que fiquem despidos o seu tronco e ramos, mas sempre cobertos e frondosos. A árvore da vida é o reino animal, as folhas que caem, os viventes que morrem, surgindo outros de novo que nascem para lhes suceder.
2656- A categoria da nossa existência nas vidas futuras será correspondente ao nosso bom ou mau procedimento nas antecedentes.
2657- É tal o nosso amor à nossa individualidade, que a morte, porque a destrói, é reputada o maior dos males.
2658- Não convém parar no caminho do progresso, o que chegou à sabedoria deve cuidar em subir também à santidade, que consiste na perfeição ou excelência moral e religiosa.
2659- A nossa alma é emanação de uma unidade substancial, divina, misteriosa e ilimitada, que se difunde pela imensidade do espaço, e vivifica todas as criaturas sensíveis e inteligentes sem exaurir nem desfalcar-se.
2660- O velho desencantado pode avaliar-se inutilizado.
2661- A renovação e perpetuidade deste mundo e do universo demonstra a sabedoria infinita que os constituiu, e a ordem maravilhosa a que obedecem e estão sujeitos.
2662- Nada se perde da vida geral e individual, toda provém da divindade e se resolve nela.
2663- Vivemos e morremos envolvidos em um turbilhão de dúvidas, enigmas, arcanos e mistérios, que não podemos resolver, decifrar, nem compreender.
2664- Liberal e anarquista são sinônimos freqüentes vezes.
2665- A mesma substância pode ser qualificada material ou imaterial, conforme se faz ou não perceptível aos nossos sentidos.
2666- Toda a natureza é simbólica, figura, representa e revela os divinos atributos do criador do universo.
2667- A vida é misteriosa como a fonte divina de que procede.
2668- Para o sábio tudo é ordem, o néscio acha desordem em tudo.
2669- O trovão é a voz do onipotente regando a terra, refrescando o ar, e com o fogo elétrico, reanimando os reinos animal e vegetal.
2670- Navegando no arquipélago proceloso da vida não devemos perder de vista o porto do nosso destino.
2671- Vemos a Deus nas cidades, na admirável variedade das produções da indústria humana, vemo-lo nos campos, nas obras maravilhosas e assombrosas da natureza, vemo-lo finalmente em nós mesmos, que o estudamos, admiramos, amamos e adoramos, em conseqüência das faculdades e inteligências com que nos enriquecerão a sua divina bondade e beneficência.
2672- As virtudes não têm o mesmo polimento dos vícios, mas uma certa rudeza natural que as constitui genuínas.
2673- Sem extensão não pode haver desigualdade: os espíritos são perfeitamente iguais por sua natureza imaterial; a variedade em suas faculdades e potências depende da diversidade dos corpos organizados a que estão unidos, os quais promovem ou limitam a sua expansão e exercício.
2674- Podemos consolar-nos de ser mortais, não há exceção na lei geral.
2675- A morte cura os achaques que a velhice torna incuráveis.
2676- Somos fortes pela virtude, fracos e covardes pelos vícios e crimes.
2677- O mal físico é tão importante no sistema deste mundo, que sem ele o mesmo mundo deixaria de ser o que é, e não sabemos o que seria.
2678- Queremos todos ser felizes; mas cada um de nós define a felicidade a seu modo e diversamente dos outros: é providência divina que assim seja para que a felicidade chegue a todos pela variedade e diversidade dos objetos apetecidos e reputados capazes de fazer felizes pela sua posse e fruição.
2679- A criação, sendo uma solene manifestação da infinita sabedoria; de Deus é igualmente o objeto, argumento e demonstração da sua eterna bondade e beneficência.
2680- Na existência neste mundo não podemos duvidar da necessidade de um corpo unido à substância que chamamos alma; poderá esta existir sem ele nos outros mundos e sistemas? é provável que não.
2681- Os homens enganam-se com a idéia de um progresso material e intelectual que esperam neste mundo, e que só pode verificar-se em outros e outras vidas.
2682- Não podemos acumular todos os bens nem todos os males da vida humana.
2683- Enganamo-nos ordinariamente sobre o modo de sentir e pensar dos outros homens quando os avaliamos por nós; cada qual é um original sem cópia.
2684- A vingança não diminui o mal sofrido, e ocasiona freqüentes vezes outros maiores.
2685- A facilidade e presteza com que alguns povos adotam as modas estrangeiras demonstram a sua leviandade, falta de caráter, juízo e nacionalismo.
2686- Os escritores e artistas têm, como as plantas, um tempo de florescência e frutificação, passado o qual se tornam estéreis, exaustos e sem novidade atendível.
2687- A multidão de legisladores ameaça a ruína das nações, como o grande número de médicos faz recear a morte dos enfermos.
2688- As fábulas que os homens imaginaram para explicar os fenômenos e sucessos cujas causas ignoravam, serviram depois para ofuscar a razão humana, e torná-la incapaz de atinar com elas e descobri-las.
2689- Erramos, aprendemos e somos enganados até morrer, por maior que seja a nossa idade, experiência e sapiência.
2690- São estéreis nos homens a primeira e última idade, e produtivas as intermédias.
2691- Pode haver, e é provável que haja nos outros sistemas e mundos, criaturas vivas, que não sendo impassíveis pela sua organização corporal, se tornem tais pela sua superior inteligência.
2692- Nas revoluções populares ou de anarquistas surgem de repente com vida efêmera os falsos heróis e grandes homens, como nos estrumes e madeiras podres, volumosos cogumelos.
2693- Atores no teatro deste mundo, devemos retirar-nos da cena quando, pela nossa velhice e achaques, reconhecemos não poder executar dignamente os papéis que nos incumbem.
2694- São infinitos os meios de que a providência divina se serve para chegar aos seus fins, muitos deles, que pareceriam à ignorância humana adversos, operam com maior eficácia e prontidão.
2695- Mundos haverá onde criaturas privilegiadas tenham olhos telescópicos para descobrir o que se passa em outros orbes mais vizinhos.
2696- Onde a lealdade não está em moda, os traidores se reproduzem como os pólipos.
2697- As calamidades públicas, castigando os povos corrompidos e anarquizados, os impelem à reforma moral, política e religiosa de que mais necessitam.
2698- Os insignificantes exaltados tornam-se enfatuados.
2699- A poesia deleita na mocidade e enfastia na velhice.
2700- Podemos tornar-nos menos passíveis neste mundo promovendo a nossa inteligência pelo estudo, ciência, experiência e virtudes, conhecendo melhor a natureza dos males e suas fontes, e podendo conseqüentemente preveni-los, removê-los, neutralizá-los e transformá-los em bens.
2701- A felicidade do velho achacado é negativa, consiste em não sofrer.
2702- Seus animais trabalham para os homens, estes, em retribuição, são forçados a trabalhar também para os manter e pensar, sendo os seus serviços freqüentes vezes mais abjetos e penosos do que os deles.
2703- Quanto mais estudamos a Deus nas suas obras maravilhosas, mais o admiramos, e menos o compreendemos.
2704- Os espíritos ou átomos indivisíveis e imortais preexistem à sua união com os corpos organizados; antes dela, não têm consciência da sua existência, nem podem ter o exercício das faculdades sensíveis e intelectuais que os distinguem, e só podem ser provocadas pela ação do mundo externo sobre os órgãos, sentidos e contextura dos corpos a que são unidos.
2705- A nossa alma sofre pela velhice do corpo como gozou pela sua mocidade, condutor de bens e de males, ele a sujeita às suas fases e vicissitudes.
2706- Os enigmas e mistérios da natureza são tantos para os homens que melhor a têm estudado, que por fim, humilhados do seu pouco saber, se declaram profundamente ignorantes.
2707- Quando os espíritos ou átomos indivisíveis se unem e se condensam, então se materializam, ganham extensão, forma, figura e densidade, e tornam-se capazes de localidade, ação e movimento.
2708- Os estrangeiros devem admirar-se da docilidade ou imbecilidade de alguns povos, que sem razão alguma suficiente adotam indiscriminadamente as suas modas, por mais extravagantes ou incômodas que sejam.
2709- As noções sublimes de uma outra vida, e de um progresso intelectual ilimitado, não foram outorgadas pela divindade para nossa ilusão: se o gênero humano crê e espera semelhantes bens é porque tais crenças e esperanças lhe foram sugeridas por Deus, que não engana nem pode ser enganado.
2710- Embebei-vos em Deus, impregnai-vos de sua sabedoria pelo estudo das suas obras, e tereis nesta vida uma prelibação da bem-aventurança eterna.
2711- O sábio é o homem menos terrestre e mais celestial que os outros.
2712- Somos maus calculistas, receamos males que não vêm, e esperamos bens que nunca chegam.
2713- Há uma felicidade positiva, que consiste em gozar; e outra negativa, em não sofrer.
2714- Os vocábulos de mais difícil definição são os monossílabos: bem e mal.
2715- Somos todos os viventes filhos de Deus, a sua paternidade criadora deu-nos o ser para nos fazer felizes.
2716- O mundo material e mecânico tem uma relação tão íntima com o sensível e vivente que por intuição se conhece serem ambos constituídos essencial e necessariamente um para o outro; sem o primeiro, o segundo não podia existir, sem este, aquele se tornaria caótico, inexplicável e insignificante.
2717- O jogo das paixões e opiniões humanas é tão variado e complexo que não deve estranhar-se a diversidade assombrosa de casos e sucessos que ocasiona na vida individual, familiar e social.
2718- É muito limitada a nossa inteligência: não podemos compreender o máximo infinito, nem o mínimo infinitésimo da imensidade.
2719- Sendo cada homem um original sem cópia, as suas enfermidades tomam também um caráter especial que difere em todos.
2720- A variedade do procedimentos dos homens deriva geralmente da diversidade de suas opiniões sobre a felicidade: diferindo quanto à sua natureza e objetos, devem também diferir nos meios e atos para os procurar e conseguir.
2721- A individualidade humana se extingue pela morte; outra qualquer que dela derive e lhe sobreviva é de natureza abstrusa e incompreensível à nossa inteligência.
2722- Uma boa letra não anuncia ordinariamente superior capacidade.
2723- Compete somente aos velhos formular máximas e sentenças morais, os moços, por falta de ciência e experiência, não as podem compor nem compreender exatamente.
2724- A intriga que ocupa e diverte os moços assusta e incomoda os velhos.
2725- Ainda não morremos uma vez; quem sabe se o instante da morte não é aprazível e voluptuoso? alguns sintomas externos parecem anunciá-lo, como uma epilepsia de sensual prazer.
2726- Um homem reputado de saber, juízo e virtude, dá sujeição à muita gente.
2727- Dissimulamos ordinariamente para poupar-nos o trabalho, ou risco de refutar ou impugnar o que vemos e ouvimos.
2728- Em matéria de religião, deve crer-se tudo o que é compatível com a idéia ou noção de um Deus eterno, imenso, infinitamente sábio, poderoso, bom, justo e providente, e rejeitar quanto for oposto ou repugnante com estes seus divinos atributos.
2729- É necessário dourar ou envernizar a vida para ocultar a frágil consistência do seu fundo material.
2730- Enganar e ser enganado é talvez a sorte inevitável do gênero humano neste mundo sublunar.
2731- As flores deleitam a vista e o olfato, os frutos também, o paladar, pelo seu sabor.
2732- Figurai-vos extinto o mal para a vida humana, e vereis acabar todo o jogo, ação e movimento dos homens no teatro deste mundo.
2733- O sistema de impunidade é também o promotor dos crimes.
2734- A luz dá cor aos corpos e os faz parecer distintos, as trevas os igualam e confundem.
2735- Não sabemos avaliar a saúde quando a temos, lamentamos a sua falta quando a perdemos.
2736- O sucesso se torna necessário, pressupostos os antecedentes que precederam e determinaram a sua existência na ordem dos eventos deste mundo.
2737- Descobrimos tanta ordem, correspondências, proporções, simetria, harmonia e relações tão ajustadas nas obras da natureza que devemos considerar-nos em erro quando se nos figura alguma coisa irregular, anomalia sem desígnio, fim nem aplicação.
2738- O nascimento ilustra os nobres, o procedimento os que o não são.
2739- São poucos os homens que chegam idade dos desenganos, a maior parte falece na dos erros, ficções e ilusões.
2740- Nada sucede que não tenha uma razão suficiente de haver sucedido.
2741- Tudo é limitado nos entes criados, tudo infinito em Deus; daqui provém que não possamos compreender nem calcular a extensibilidade assombrosa da ação divina sobre os átomos infinitésimos e elementares da matéria universal da criação.
2742- A leitura é um grande lenitivo para a velhice nos achaques que a incomodam, e reclusão a que obrigam.
2743- Somos sempre enganados sonhando, e freqüentemente acordados.
2744- Há mistérios profundíssimos na natureza, que não é dado aos homens penetrar e compreender; se isso lhes fosse possível, deixariam de ser tais, e se tornariam entes de diversa natureza.
2745- Nas monarquias, as revoluções na corte e ministérios são tão freqüentes como raras entre os povos; aquelas, dependem da vontade de uma ou poucas pessoas, as populares, do concurso de inumeráveis individualidades.
2746- A mobilidade, que sobeja na mocidade, falece na velhice.
2747- Há uma ignorância universal que presume saber o que ignora, e explicar o que não compreende, e que se ufana do seu império sobre o entendimento e razão humana.
2748- Constituídos e organizados como somos, devemos considerar a morte como um grande bem; eterna seria a nossa desgraça e agonia se pudéssemos enfermar, envelhecer e padecer sem morrermos.
2749- Sem a substância a que chamamos matéria, de que serviria a inteligência? esta se tornaria estéril, inútil ou inteiramente nula.
2750- A política moderna afugenta a moral antiga.
2751- Na vida política social como na individual toleram-se ou desprezam-se os pequenos males; mas quando se agravam desmesuradamente, procura-se com ansiedade o remédio, e não se escusa meio algum de o conseguir, recorrendo-se até às operações mais violentas, dolorosas e arriscadas.
2752- Estudai os instintos, conhecereis os meios, uns e desígnios da natureza nos viventes de sua produção.
2753- O grande erro dos políticos modernos consiste em aplicarem indistintamente aos povos em geral as instituições mais liberais, sem atenderem à sua especial capacidade moral e intelectual.
2754- Tudo o que está fora da esfera da nossa sensibilidade é como se não existisse para nós; não pode ser agente nem paciente a nosso respeito, é recíproca a sua e nossa independência.
2755- Um inundo é um sistema de entidades e coisas concebido na mente divina, e realizado pela sua onipotência; é tal, nem pode ser outro diverso do que o mesmo Deus quis que fosse com relação ao sistema universal da natureza.
2756- O anarquista maldiz de todos os governos de que não partilha as vantagens.
2757- O progresso individual é pouco sensível, o coletivo ou geral da espécie humana é mais distinto e notável.
2758- Uma unidade distinta e prestadia se inutiliza ordinariamente formando parte de um corpo coletivo.
2759- O verdadeiro sábio é um homem excepcional na família racional da espécie humana.
2760- Os sonhos, com o nome especioso de visões e revelações, têm contribuído muitas vezes para iludir e enredar os homens nas suas opiniões e crenças religiosas.
2761- Em um povo ignorante, o chefe deve ter a mesma autoridade absoluta que a natureza confere ao pais sobre seus filhos meninos e menores.
2762- Somos simultaneamente escravos e senhores do tempo que a abstração humana criou, dividiu e classificou em anos, meses, dias, horas e minutos.
2763- Pode avaliar-se o caráter das pessoas pela maneira porque tratam os animais domésticos, próprios ou alheios.
2764- O sono tem por auxiliar o silêncio.
2765- O suicida marca a hora da sua morte e o limite da sua vida.
2766- Alegria e riso, tristeza e choro formam o mosaico da vida humana.
2767- A morte é incorruptível, não se deixa subornar.
2768- Deus escreve direito por linhas tortas: é um dito vulgar de muito profunda significação.
2769- De quantos males nos temos queixado neste mundo que deram ocasião aos nossos maiores bens!
2770- Podemos ver e conhecer de algum modo a Deus pelos nossos sentidos, estudando e admirando as suas obras; mas quando queremos elevar-nos ao estudo e compreensão da essência e natureza, o nosso espírito se confunde, desatina, e se perde na sua imensidade.
2771- Nunca os povos são tão mal governados como quando muita gente se encarrega de governá-los.
2772- Há muita gente feliz sem saber que o é, e que se considera desgraçada por não conhecer ou não haver experimentado os numerosos males da vida humana, contrastes indispensáveis para uma exata avaliação dos inumeráveis bens da mesma vida.
2773- O material é o invólucro do espiritual, o objetivo, do intelectual, e finalmente o símbolo e expressão da inteligência.
2774- O bem e o mal significam dois modos de sentir e existir em nós, gozar e sofrer: ambos têm a sua origem na sensibilidade orgânica do nosso corpo unido à unidade sensível e inteligente da nossa alma.
2775- A traição promovida desalenta a lealdade preterida.
2776- Os homens de juízo e experiência adivinhão com freqüência.
2777- Nas cortes, pequenos acidentes produzem grandes acontecimentos.
2778- Os mundos, como os homens, são também mortais.
2779- No estudo da natureza erramos ordinariamente, inferindo mais do que ela inculca nos seus fenômenos e produções.
2780- O medo exclui ou amortece o amor.
2781- Muitos dos fenômenos misteriosos deste mundo, seriam melhor explicados e entendidos, decidindo-se que o mesmo mundo é também criatura viva e animada por um espírito de superior categoria e transcendente inteligência.
2782- As pessoas de inteligência medíocre ou vulgar são muito ambiciosas de governar; desconhecem importância e risco do poder e mando, e só atendem a sugestões da sua ridícula fatuidade.
2783- Uma das maiores maravilhas para o estudo e admiração dos homens é a correspondência e relação recíproca dos nossos sentidos com a natureza material deste mundo e do universo.
2784- A impertinência e rabugem da velhice procede em algumas pessoas do tédio e fadiga de sofrer por muitos anos a turba incômoda de loucos, tolos, néscios e velhacos.
2785- As ruínas de uns governos e cultos religiosos têm servido de elementos e materiais para a formação de outros.
2786- Se amamos a nossos pais, porque contribuíram materialmente para a nossa existência, que amor não devemos a Deus, que concebeu o tipo do nosso ser, e o realizou no espaço e tempo pela sua paternidade criadora?
2787- Inventariando e avaliando na velhice os nossos conhecimentos, reconhecemos com mágoa poucas verdades e inumeráveis erros.
2788- Se os homens fossem impassíveis, seriam inativos e inamovíveis, não haveria motivo algum que os impelisse à ação e movimento voluntário.
2789- Quando um povo soberanizado se acostumou impunemente ao perjuro, ingratidão e traição, é dificílimo reduzi-lo à lealdade e obediência às autoridades supremas do Estado: a anarquia é o seu elemento predominante.
2790- A velhice quer descanso, a morte lho dá perene.
2791- Uns querem ordem porque receiam perder, outros promovem a desordem porque esperam ganhar por ela.
2792- São os ignorantes os que presumem saber mais das coisas de outro mundo, e os sábios os que confessam saber menos ou nada a tal respeito.
2793- Lemos os nossos escritos com o mesmo prazer com que vemos a nossa imagem nos espelhos, aqueles retratam o nosso espírito, estes, a nossa fisionomia.
2794- Os sábios não brilham por modestos, falta-lhes a proterva dos charlatães.
2795- Os vícios e crimes andam sempre em companhia.
2796- Perdemo-nos na imensidade porque fomos formados somente para a localidade.
2797- Não desespereis nas grandes crises da vossa vida, esperai confiando em Deus e vereis prodígios da sua infinita beneficência.
2798- As máximas salvam os que as compõem de explicações e comentários, que os fariam ainda mais impopulares do que já são ordinariamente por aquele gênero de escritura e composição.
2799- Os homens vivem em um engano e ilusão constantes, ocupados na curta esfera deste mundo, que consideram como um todo vastíssimo, não sendo mais que um átomo infinitésimo no sistema imenso da criação; dando-se uma importância ridícula a tudo que lhes pertence, parecem desconhecer que as doenças e a morte denunciam a sua miséria e ignorância, e que toda a sua grandeza e glória terrestre se reduzem em breves instantes a pouca cinza e pó.
2800- A embriaguez do amor, como a do vinho, impele a iguais desatinos.
2801- Cada povo e nação é um original sem cópia; a forma de governo que lhe convém deve ser regulada pela sua especialidade; a adoção ou arremedo indiscriminado das instituições dos outros povos lhe é funesto quase sempre pela disparidade de circunstâncias em que se acham para com eles.
2802- A vida e morte estão sujeitas ao regime de uma Providência, que, compreendendo o pretérito, presente e futuro, regula os destinos individuais, familiares e sociais, por um modo infinitamente sábio e justo, porém misterioso e incompreensível à razão e inteligência humana.
2803- Os homens são mais dignos de lástima que de ódio e desprezo, os seus vícios e crimes provêm mais de ignorância que de malícia e malignidade; com melhor educação, exemplos e cultura, seriam menos maus ou mais virtuosos do que são.
2804- As religiões, governos, moral, política, indústria, usos e costumes seguem a escala da inteligência humana, e variam segundo esta se adianta ou atrasa nos povos e nações que se sucedem no teatro deste mundo.
2805- Na mocidade pouco se cuida na religião, é na velhice que as idéias religiosas ocupam especialmente o pensamento dos homens, que vendo escapar-lhes este mundo, necessitam para sua consolação de esperar uma vida futura, mais feliz e melhorada que a presente.
2806- Não é este mundo concreto e material que assusta os homens, mas o fantástico, abstrato e ideal, que eles mesmos criaram e imaginaram.
2807- Os sábios são sintéticos, descobrem um universo guarnecido de inumeráveis mundos, um sistema geral compreendendo infinitos sistemas parciais, finalmente um ser ou unidade de natureza eterna e incompreensível, animando, vivificando e racionalizando este todo portentoso com a sua existência, presença e assombrosa sabedoria.
2808- Quando temos chegado a um alto grão de riqueza, morremos: de ciência, morremos: de honras e autoridade, morremos; se tal é a sorte final do homem, para que nos afadigamos tanto para alcançar riqueza, ciência e autoridade? Próximos à morte, a nossa mágoa pela perda de semelhantes bens será correspondente ao seu volume, extensão e quantidade.
2809- Os preceptores dos homens, não querendo dar-se o trabalho de os fazer bons pela razão, julgaram mais cômodo fazê-los tais pelo terror, ameaças e castigos.
2810- Gozar da vida sem referência a Deus, autor de todos os bens, é comum a todos os animais irracionais, gozá-la admirando as obras de Deus, adorando e reconhecendo a divina bondade e beneficência, é especial às criaturas inteligentes, e constitui a felicidade mais plena de que são capazes neste mundo.
2811- Os velhos são tenazes no seu propósito, não têm a inconstância nem leviandade da gente moça.
2812- Os tiranos não seriam tais se os povos o não merecessem.
2813- Os viciosos investem e maltratam os virtuosos, estes os lastimam antevendo o seu opróbrio e punição.
2814- Há prazeres privativos de cada idade, e outros comuns para todas.
2815- A existência de Deus no universo criado é talvez comparável ao fogo no ferro em brasa, que distinto do metal o tem empregnado de sua substância ativa e luminosa.
2816- Sendo a providência divina infinita, não admira que os homens a não possam compreender em toda a sua extensão, e a neguem ou recusem nos casos e acidentes mínimos da vida humana, que aliás lhe estão geralmente subordinados.
2817- Tudo o que vemos no jogo, movimento e evoluções do gênero humano, é o que deve ser conforme a sua natural constituição no sistema parcial deste mundo e universal da criação.
2818- Na velhice é bom que sejamos esquecidos para não sermos importunados, incomodados ou perseguidos.
2819- São os velhos os que melhor reconhecem a verdade das máximas e sentenças morais, falta aos moços a experiência para bem as entender e apreciar.
2820- Avistamos a imensidade e não sabemos respeitar-nos!
2821- Se conhecemos tão pouco o mundo em que vivemos, que idéia podemos formar dos inumeráveis que mal avistamos!
2822- Homens há, como as obras de casquinha, que só têm a sua superfície de metal nobre.
2823- A impaciência em que vivemos provém da nossa ignorância, queremos que os homens e as coisas sejam o que não podem ser, e deixem de ser o que são por sua essência e natureza.
2824- Quanto saber desaproveitado, porque os seus possuidores não o querem publicar com receio de serem maltratados ou perseguidos por sua intempestiva revelação!
2825- Na administração e regime da divina providência, os males são também instrumentos e condutores de bens.
2826- É tal a nossa imprevidência ou ignorância, que tomamos por um grave mal o que freqüentes vezes é origem e ocasião dos maiores bens.
2827- A doutrina do panteísmo e otimismo universal é mais ou menos implicitamente professada em todos os sistemas religiosos, que aliás rejeitam ou reprovam os vocábulos que a representam.
2828- Os erros falecem quando as verdades amadurecem.
2829- Na velhice com menor vista avistamos muito mais do que na mocidade: a ciência e experiência são os vidros de graus que produzem tais efeitos.
2830- O mundo está constituído e organizado no seu todo e partes para ser o que é, e nada mais nem menos.
2831- Se não fôssemos sensíveis, seriamos impassíveis.
2832- A ofensa supõe necessariamente passibilidade no ente ofendido: o impassível é essencialmente inofensível.
2833- O universo material é animado por Deus, como o nosso corpo pela nossa alma.
2834- A verdadeira felicidade não pode consistir na fruição dos prazeres sensuais, muitos dos quais deixam freqüentes vezes o travo acerbo de remorso e arrependimento.
2835- Sem os males e necessidades da vida não haveria ofício, emprego, nem ocupação alguma para os entes vivos deste mundo, faltando-lhes motivos para ação, agência e movimento espontâneo no teatro deste mundo.
2836- Não admira que o juízo seja censurado, quando a loucura já foi elogiada.
2837- Os trabalhos da vida afiam uns engenhos e embotam outros.
2838- Não se pergunta ordinariamente o motivo por que nos rimos, mas por que choramos: o riso é tão freqüente e vulgar, que não causa novidade.
2839- Os anarquistas e desordeiros falam aos povos em resistência e liberdade; os monarquistas ordeiros em religião, moral, obediência e lealdade.
2840- Os moços presumem muito porque sabem pouco.
2841- É argumento muito poderoso de uma outra vida a crença instintiva e universal do gênero humano na sua existência e realidade.
2842- As religiões são modificadas pela inteligência dos que as professam.
2843- Não procureis o juízo prático nas academias, universidades, sociedades cientificas e literárias, achá-lo-eis em primeira mão entre os negociantes e lavradores, nas praças de comércio, e estabelecimentos rurais.
2844- Individuais, tornamo-nos egoístas; coletivos, sociais.
2845- O ser da criatura vivente é uma fração infinitésima da substância imensa e eterna da qual se separou interinamente pela vida para ser reintegrada depois pela morte no todo infinito de que saiu e se desagregou.
2846- Variamos com as idades, de instintos, gostos, paixões, opiniões, até mesmo de moléstias.
2847- Se pudéssemos prever o futuro, não seriamos livres; tal previsão pressupunha uma ordem fatal e inevitável de coisas, casos e sucessos, que não era possível interromper nem remover.
2848- Nenhum mundo existe estacionário, há em cada um, uma evolução de novos entes, produtos, casos e acidentes que lhe dá uma novidade sucessiva, sujeita às leis gerais da sua estrutura, formação e destinação.
2849- Os poetas têm feito maior mal à espécie humana com as suas fábulas e ficções do que os filósofos com as suas teorias e abstrações.
2850- Os males como os bens têm um limite necessário na natureza humana, o que não devemos esquecer quando sofremos ou gozamos.
2851- A imaginação dos homens figura tudo o que aliás qualifica de imaterial ou espiritual, não podendo conceber nem compreender o que não tem forma, figura nem lugar e limites no espaço.
2852- É quando as flores abrem, e os frutos amadurecem, que deleitam a nossa vista, olfato e paladar, com suas cores, perfumes e sabores, assim também é nas idades viril e madura que os homens exibem os primores do seu engenho, forças e produções.
2853- Se não podemos compreender o mínimo de uma flor ou de um inseto, como poderemos compreender o máximo do universo!
2854- O objeto de um amor eterno não pode ser outro que o bem infinito igualmente eterno.
2855- A nossa vida é uma partícula infinitésima da vida eterna; desta proveio e tornará para ela.
2856- Mãe diligente, filha negligente: terra abundosa, nação preguiçosa.
2857- A civilidade encobre ou dissimula o egoísmo.
2858- Devemos aos homens e aos seus livros muitas verdades e inumeráveis erros.
2859- Da ação e reação recíproca dos entes e corpos uns sobre os outros, resulta finalmente a sua morte ou destruição, ocasionando ao mesmo tempo a formação e existência de novos corpos e viventes para os substituir e perpetuar este mundo como foi constituído pelo seu autor e criador onipotente.
2860- Os males da natureza são muito poucos, comparativamente aos de invenção e apreensão dos homens.
2861- Temos o mesmo nome nas diversas idades da vida, e contudo somos bem diferentes de nós mesmos em todas elas.
2862- Sem alteração ou mudança no todo ou parte do nosso corpo, não podemos sentir, gozar nem sofrer: a sensação é produto do uma alteração ocasionada por causa ou ação externa ou interna.
2863- Há morte e destruição neste mundo para que haja sempre vida, formação e renovação com variedade e novidade.
2864- O nosso corpo que provoca e excita o exercício das faculdades e potências da nossa alma, é também o mesmo que limita a sua expansão progressiva e restringe a inteligência, para que não transcenda os limites que a divina sabedoria lhe assinalou em relação à natureza humana, ao mundo que habitamos, e ao sistema do universo de que fazemos parte.
2865- Há para a sociedade uma harmonia na loucura variada dos homens, como para a música vocal e instrumental na diversidade e antagonismo dos sons e vozes.
2866- O erro e ignorância parecem ser elementos obrigados na constituição do gênero humano, este não seria o que é se tudo soubesse e nada ignorasse.
2867- Como Deus nada fez nem faz sem propósito, fim e aplicações, segue-se que tudo o que existe é o que deve ser em todos os sistemas parciais e no geral do universo.
2868- Cada mundo começa como um ovo ou embrião, e se vai desenvolvendo e explicando por séculos e milênios até chegar àquele ponto de maturação, que lhe foi destinado, e se resolve então nas substâncias elementares de que foi formado.
2869- Se é terrível a idéia da morte ou da extinção da nossa individualidade corporal, que será da aniquilação total do nosso ser! A esperança de uma vida futura é instintiva e salutar.
2870- Sem os contrastes que a natureza apresenta, os homens não poderiam conhecer nem avaliar as coisas e sucessos deste mundo.
2871- Quando temos em vista os bens eternos, pouco nos ocupamos e apaixonamos pelos temporais e perituros.
2872- Há uma idolatria profana, como outra religiosa; têm por objeto os homens e suas obras.
2873- Devemos recear os juízos dos homens por falíveis, mas adorar os de Deus por infalíveis.
2874- O desencanto do mundo, da vida humana e suas ilusões, faz parecer extravagantes ou loucos os que assim, desenganados e desencantados, adotam um plano especial de vida que os outros homens não podem avaliar nem compreender.
2875- Uma felicidade absoluta só compete a Deus, as suas criaturas, por limitadas, são incapazes de outra que não seja a relativa, o que supõe necessariamente a existência do mal físico para contrastar os bens e fazê-los avaliar e apreciar.
2876- A autoridade humana é muito poderosa: a razão cede ordinariamente aos seus ditames e doutrinas.
2877- E questão curiosa, se renascendo para uma segunda vida, não seríamos os mesmos que fomos, concorrendo em tudo as mesmas circunstâncias, condições e acidentes da primeira: a afirmativa parece provável com ressaibos de fatalismo.
2878- Toda a ciência vem de Deus, não a podemos haver senão pelo estudo, exame e observação das suas obras maravilhosas, ou da natureza, sua revelação perene e objetiva.
2879- A vontade onipotente de Deus opera sobre os átomos infinitésimos da matéria, como a nossa individual sobre as moléculas integrantes dos membros do nosso corpo, e neste sentido poderíamos talvez asseverar que o universo é o corpo incomensurável da divindade.
2880- Inspirar e promover o amor de Deus e dos homens é a obrigação sagrada dos sábios em seus escritos e discursos.
2881- Deus se figura e se individualiza de algum modo no universo material e fenomenal, sendo aliás a sua substância eterna, imensa e ilimitada por sua essência e natureza misteriosa e incompreensível.
2882- O extraordinário também é natural ainda que raro ou menos freqüente.
2883- Em um mundo em que a destruição anda a par da formação, a morte a par da vida, apaixonar-nos profundamente pelos objetos que nele se criam e figuram por algum tempo é loucura rematada.
2884- O mal é neste mundo o motivo principal da cultura da nossa inteligência, não querendo sofrer, procuramos conhecer as causas dos nossos males para os prevenir, remover ou mitigar.
2885- Os homens têm figurado os deuses com os mesmos vícios, paixões e defeitos que neles existem: figurando-os com a forma humana, julgaram melhor compreendê-los e honrar deste modo a própria espécie nas famílias animais da natureza.
2886- Todos os nossos cuidados, trabalhos e fadigas se dirigem à conservação e regalo do nosso corpo, que é cinza e pó, e muito pouco ou nada cuidamos no aperfeiçoamento do nosso espírito, que reconhecemos de natureza imortal e duração eterna; tal procedimento é bem impróprio da razão e crença religiosa de que tanto nos gloriamos.
2887- Os olhos atraiçoam muitas vezes a nossa alma descobrindo os seus mais recônditos sentimentos, afeições e aversões.
2888- Toda a ciência deve ter por principal objeto exaltar o espírito e coração do homem ao amor e admiração de Deus; estes sentimentos são os que mais contribuem para a felicidade terrestre das criaturas humanas, e predispõem para a vida futura, onde no progresso infinito destes mesmos sentimentos consistirá necessariamente a eterna bem-aventurança.
2889- A riqueza material é de difícil transporte neste mundo e impossível para os outros; a ciência e virtude, identificadas com a nossa alma, podem percorrer a imensidade do espaço sem trabalho nem despesa com a sua condução.
2890- Tudo está sujeito e subordinado a uma vontade Onipotente; o Universo, os mundos que o guarnecem, e os mesmos átomos infinitésimos viventes e elementares de que tudo e o todo se compõem.
2891- Os moços não são nem podem ser sábios, não têm suficiente ciência, experiência, virtude e amor de Deus para serem qualificados tais.
2892- É necessário que, gozando dos bens e prazeres naturais, reconheçamos que gozamos do mesmo Deus, autor de todos eles, e teremos de mais a mais o delicioso sentimento de gratidão pela sua infinita beneficência.
2893- Congratulamo-nos na velhice de termos sido laboriosos, econômicos e providentes na mocidade.
2894- O mar flutuante e movediço, a terra firme e estacionária, que contraste no mesmo mundo!
2895- As sociedades secretas são tais ordinariamente porque a publicidade dos seus atos as faria parecer ridículas ou criminosas.
2896- Correm grande perigo os Estados onde os ministérios se sucedem com freqüência, como os doentes com repetidas juntas e conferências de professores.
2897- Há progresso de inteligência nos povos onde a invenção das modas é freqüente ou habitual.
2898- Dizemos sempre mais ou menos do que sentimos e pensamos, a prudência e circunstâncias não permitem que sejamos estritamente exatos e sinceros.
2899- Forrar o próprio trabalho, gozar e empregar o alheio, é o propósito latente dos ambiciosos do poder e mando.
2900- Os mundos também perecem como tudo o que neles se compreende, o universo se renova como cada uma das suas partes integrantes, a sabedoria de Deus sendo infinita tem de exercer-se com variedade e novidade por toda a eternidade.
2901- As paixões eclipsam a razão, como as nuvens, a luz do sol.
2902- Com o presente à vista, o pretérito em lembrança, e o futuro em esperanças e receios vivemos esta vida terrestre, misteriosa e mal compreendida, incerta em suas vicissitudes, porém certa por sua terminação pela morte e destruição.
2903- A eloquência consiste em simbolizar a natureza por palavras, que representem os seus fenômenos e excitem os mesmos sentimentos e emoções, que costumam ocasionar nos viventes racionais.
2904- Quanta gente vi, conheci e pratiquei, que já não existe! Que variedade de caracteres, gostos, costumes e opiniões! Tudo passou para nunca mais tornar.
2905- O mundo material seria o caos sem os viventes que nele existem e se criam, uma recíproca relação em tudo constitui o mundo tal como nos parece e se acha coordenado.
2906- É freqüente o riso, e raro o pranto na espécie humana, argumento de que a soma dos bens é incomparavelmente maior que a dos males no sistema deste mundo.
2907- O pior mal da escravidão é conservar os cativos na ignorância e bruteza, pela opinião de que são assim mais dóceis, humildes e subordinados.
2908- O ser infinito, por isso que não é limitado, compreende tudo necessariamente na esfera da sua imensidade.
2909- O mundo que nos engana na mocidade nos desengana na velhice.
2910- Tudo depende do lugar, tempo e circunstâncias, os incrédulos de hoje seriam fanáticos na idade média.
2911- Os cuidados perseguem a vida, não incomodam os mortos.
2912- O sábio é o que mais receia a morte sabendo melhor apreciar a vida e o espetáculo assombroso do universo, no qual existe como agente, ator, espectador e especial admirador de Deus, seu criador onipotente.
2913- Como os dias e as noites, os bens e os males se alternam e se contrastam.
2914- O mal não existe na natureza como fim mas como ocasião, meio, instrumento, veículo ou condutor de bens.
2915- Não devemos estranhar os grandes males que padecem as modernas sociedades, nas quais a desmoralização é qualificada de civilização.
2916- A razão é forte quando os instintos são fracos, e vice-versa.
2917- Estabelecido como verdade, um absurdo, este vem a ser o núcleo de muitos outros, o que se observa especialmente em matérias religiosas.
2918- Para que houvesse uma história geral do gênero humano tão variada como existe, era necessário e indispensável que os homens fossem tais como têm sido, são e hão de ser.