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3579- Congratulamo-nos muitas vezes de casos e eventos que têm de ser, para nós, origem ou ocasião de graves males.

3580- Há uma intervenção divina nos negócios e sucessos humanos a que chamamos providência: esta se opera somente pelas leis e meios naturais.

3581- Os velhos pouco se inculcam e valem muito.

3582- A rosa ainda em botão não deleita a vista nem perfuma os ares; mas aberta e expensa com a sua beleza majestosa, contenta os olhos, o olfato e faz a glória da natureza; assim o homem adulto e maduro pela ciência e virtudes honra a humanidade pelos primores do seu entendimento, indústria e talentos.

3583- Os velhacos tornam-se necessários e valiosos aos néscios e tolos ricos e poderosos.

3584- Nas cortes, a sabedoria dá sujeição, a folia é bem aceita e agraciada.

3585- Em um mundo, concepção e obra da infinita sabedoria de Deus, nada existe nem pode existir sem propósito, fim, destinação e aplicação.

3586- A melhor companhia acha-se em uma escolhida livraria.

3587- Concebemos esperanças sem fundamento, queixamo-nos depois de não terem cumprimento.

3588- Os fortes foram feitos para servir os fracos, se estes têm suficiente inteligência para os dominar.

3589- Os velhacos não são homens de superior inteligência: se o fossem seriam pessoas de honra, verdade e probidade.

3590- Uma boa letra não anuncia vasta inteligência, nem uma eloquência brilhante, profunda sapiência.

3591- Por toda a parte se alega razão e não se descobre senão paixão.

3592- É cabedal que não se perde nem se gasta a esperança e confiança em Deus.

3593- Vemos em toda a parte matéria ou corpos sem inteligência, mas não podemos conceber inteligência sem corpos ou matéria em que se revele e manifeste as suas faculdades.

3594- Os homens probos e leais seguem a linha reta, os velhacos preferem o zigue-zague, como os raios e coriscos.

3595- Para os que governam, os serviços mais importantes são os feitos direta e especialmente às suas pessoas.

3596- Quando morrem as cidades e os impérios, o homem leva a mal o ser mortal!

3597- O nascimento confere vantagens que o merecimento mais distinto não consegue.

3598- Um bom bibliotecário deve ser poliglota e, de algum modo, enciclopédico e universal.

3599- Arrependemo-nos na velhice de inumeráveis atos que praticamos na mocidade e que então nos não pareceram repreensíveis e dignos de censura, a reflexão senil nos ensinou a avaliá-los como tais.

3600- Os impostores e inimigos da verdade fazem bem em declamar contra a razão, é a luz que dissipa as trevas.

3601- A liberdade do homem está sujeita às leis da Natureza, podendo obrar somente nela e por ela.

3602- O inimigo insignificante torna-se, pelo desprezo, importante.

3603- Algum dia temos de amanhecer sem anoitecer, ou anoitecendo, não amanhecer.

3604- Sem as ilusões da mocidade não podemos chegar aos desenganos da velhice.

3605- A morte é certa, a medicina incerta.

3606- A inteligência se revela na extensão, ambas identificando-se por um modo misterioso constitui uma unidade a que chamamos universo.

3607- O motivo do interesse individual é tão pouco decoroso que os homens geralmente querem passar por desinteressados em seu procedimento e ações.

3608- Um bom poeta será sempre mau filósofo; a imaginação eclipsa a razão.

3609- A vida é ação e movimento, trabalho, ocupação, fruição e sofrimento.

3610- A diuturnidade da vida figura mais terrível a sua perda.

3611- É uma ilusão muito ordinária nos homens suporem-se mais importantes do que são, resultando disto verem muitas das suas esperanças frustradas e tornarem-se objetos de riso e zombaria para os outros homens.

3612- Não admira que o dinheiro seja objeto da idolatria universal, ele representa todos os bens materiais, e muitos morais, da vida humana.

3613- Toda a entidade impassível é também necessariamente inofensiva.

3614- A riqueza de alguns é a fonte de que bebem muitos sedentos; que seria deles se não houvessem ricos!

3615- Gasta-se a vida gozando, também se gasta sofrendo, sendo porém a fruição, habitual, e o sofrimento, excepcional, o abuso daquela contribui mais que tudo para a brevidade da vida.

3616- Sofrendo aprendemos a gozar, errando, a acertar e regular-nos.

3617- Há tolos malignos que fazem mais dano e mal que os velhacos consumados.

3618- E necessário que saibamos tolerar-nos mutuamente sob pena de vivermos em um tormento continuado de resistência, oposição e contradição entre uns e outros.

3619- A filosofia e medicina prometem muito e dão pouco.

3620- Os homens de reflexão descobrem na natureza relações que os irrefletidos nem suspeitam.

3621- Os que governam persuadem-se que devem primar em tudo e mostram ordinariamente algum ressentimento às pessoas que mais se distinguem em sua presença por seu saber e talentos.

3622- Não pode haver reflexão onde tudo é distração.

3623- São muitos os loucos a quem grandes intervalos lúcidos inculcam e representam de racionais.

3624- Exagera-se a censura, mas rebaixa-se o louvor.

3625- É bem singular que não possamos familiarizar-nos com a morte, sendo ela aliás tão familiar entre nós.

3626- Devemos louvar a Deus não só quando gozamos, mas também quando não sofremos.

3627- O prazer mais fino, porém menos durável, é o da união dos sexos, assim devia ser para promover a procriação sem destruir os procriadores.

3628- Produzir e destruir é o exercício e ocupação perene dos homens neste mundo.

3629- Gozamos na mocidade sem reflexão, padecemos com ela na velhice.

3630- Sem liberdade não haveria moralidade: os entes livres e sociais são os únicos morais ou capazes de moralidade.

3631- Assim como este mundo se renova constantemente de entidades e coisas, o universo igualmente é renovado por partes nos mundos e sistemas solares que guarnecem a imensidade do espaço, dissolvendo-se uns e formando-se outros com variedade assombrosa em sua estrutura e habitantes. A sabedoria, poder e bondade de Deus, não tendo limites por sua imensidade, o seu exercício será igualmente eterno e infinito.

3632- A riqueza pelo comércio e navegação é a mais eficaz civilizadora das nações.

3633- São poucos nas sociedades humanas os facinorosos, como na natureza os animais ferozes e carniceiros.

3634- No vasto labirinto deste mundo tudo é ordem para os sábios e desordem para os néscios.

3635- Os tronos vacilam onde os rebeldes blasonam de ser ou ter sido tais.

3636- O mal físico dá origem ou é ocasião do bem e mal moral: se os homens não sofressem, se fossem impassíveis, não seriam bons nem maus, nem sociais.

3637- Os rebeldes incorrigíveis qualificam de patriotismo e movimentos generosos os seus crimes a atentados patibulares.

3638- Os governos receiam-se dos sábios como censores, não os querem, portanto, para conselheiros.

3639- Confiando e esperando em Deus nunca devemos desesperar da sua bondade, o seu socorro chega sempre quando é mais oportuno e necessário.

3640- O pobre diz mal do rico, o fraco do poderoso, o ignorante do sábio, ninguém tolera com resignação a sua inferioridade ou insignificância pessoal, cada qual, em humilde condição, recorre ao arsenal da maledicência para rebaixar aqueles a quem inveja e consolar-se ou justificar-se da sua sorte menos benigna ou desfavorável.

3641- A velhice ganha ordinariamente em intelectualismo o que perde em sensualismo.

3642- Se o universo é obra de uma sabedoria e poder infinito, o sistema da sua criação deve ser perfeitíssimo no seu todo e partes, destinado a simbolizar, representar e revelar os atributos de Deus, e a felicitar as suas criaturas vivas, sensíveis e inteligentes a quem deu e dá o ser para que participem da sua vida, inteligência, ação e felicidade.

3643- Descobrir ordem na suposta desordem, harmonia na aparente discórdia, caracteriza o verdadeiro sábio, otimista por estudo, ciência, razão e reflexão.

3644- Que assombrosa maravilha a destruição produzindo a formação, a morte, a vida, o mal, o bem e tudo harmonizando-se e contribuindo para a renovação, conservação e perpetuidade deste mundo!

3645- Os verdadeiros sábios não são os que presumem saber mais que os outros homens, porém os que reconhecem saber menos relativamente à extensão ilimitada da sua própria ignorância reconhecida.

3646- Do homem ativo, sem consciência, não confieis vossa fazenda.

3647- Homens há que parecem acusar a sociedade da sua pobreza, não refletindo que a devem ordinariamente aos seus vícios, ignorância, fatuidade e inflexibilidade de caráter.

3648- O terror da morte procede geralmente dos antecedentes que a precedem e dos conseqüentes que a acompanham: a opinião tem uma poderosa influência nesta matéria.

3649- Lendo a biografia dos homens ilustres, devemos admirar o Ser Supremo, que, concebendo na sua mente divina o gênero humano, o realizou e pôs em ação no teatro deste mundo para obrar e representar nas suas variadas cenas com uma inteligência de algum modo criadora, e com variedade e novidade assombrosa em seus atos e procurações industriais e intelectuais.

3650- Há bem absoluto, o mal é sempre relativo.

3651- O exame e análise profunda das palavras, sua significação e objetos, dissipam inumeráveis erros que ofuscam a nossa razão e impedem a descoberta de verdades muito importantes.

3652- Os víciosos são liberais ou pródigos para a matéria e objeto dos seus vícios, avaros e tacanhos para tudo o mais.

3653- Nem os leais se podem unir aos traidores, nem estes com aqueles, há uma força repulsiva entre eles que os faz diametralmente opostos e adversos.

3654- Males há que prolongam a vida, como bens que a fazem breve.

3655- As grandes verdades não aparecem e fulgirão senão depois que se têm dissipado o espesso nevoeiro de erros, ficções e absurdos que as têm encoberto e eclipsado.

3656- A Providência Divina circula por toda a parte sem que a possamos distinguir perfeitamente em alguma, nem descobrir os seus variados meios e fins, seguros todavia da sua eficaz e universal beneficência e justiça.

3657- Tudo neste mundo está sujeito às leis invioláveis da morte e destruição o que vive morre, o que não tem vida se destrói.

3658- Errando e sofrendo aprendemos a acertar e gozar.

3659- A guerra produz nas nações mais mudanças, novidades e revoluções do que a paz; esta é conservadora da ordem estabelecida, aquela, subversora ou perturbadora.

3660- Uma constituição liberal em um povo ignorante e imoral é anel de ouro em focinho de porco.

3661- A sabedoria divina compreende toda a invenção e ciência possível a um Deus: é inexaurível e eterna.

3662- As folhas e jornais chegam geralmente ao posterior, mas não alcançam a posteridade.

3663- Querendo explicar e compreender o intelectual sem o material, ou este sem aquele, caímos em inumeráveis erros e absurdos como os idealistas e materialistas: a inteligência e matéria têm uma correspondência tão intima entre si que de algum modo se identificam ou se harmonizam por uma energia divina, misteriosa e incompreensível.

3664- É na velhice proveta que, refletindo sobre a nossa vida passada, reconhecemos com evidência que uma grande parte das nossas ações, casos, sucessos e vicissitudes felizes e desastrosas foram devidas a circunstâncias fatais que não podíamos prever, prevenir e remover, e determinaram o nosso procedimento em uma boa parte do processo da nossa vida.

3565- A intolerância de muitos desculpa a hipocrisia de poucos.

3666- A nação mais moral e ilustrada é aquela em que os homens se distinguem, especialmente pela sua exatidão e pontualidade em tempo, lugar, palavra, serviço e contas.

3667- Só Deus conhece os homens como são, nós os avaliamos como nos parecem.

3668- A prudência não pode subsistir sem paciência.

3669- A ignorância é mãe da superstição e fanatismo.

3670- Pobres animais de carga, sensíveis como sois, se fôsseis inteligentes, qual não seria a vossa desgraça nas mãos dos bárbaros que vos dominam e conduzem!

3671- Se as companhias nos distraem e divertem, também nos ocasionam freqüentes vezes graves desgostos e dissabores: uma livraria copiosa e escolhida é sem dúvida a companhia mais cômoda e instrutiva.

3672- Conhece-se a capacidade ou imbecilidade dos que governam pela escolha que fazem dos homens para os lugares mais importantes do Estado.

3673- As mulheres, por mais ignorantes, são também mais supersticiosas que os homens.

3674- O mal é ocasião de inumeráveis bens neste mundo.

3675- São muitos os males da vida, mas também são inumeráveis os bens.

3676- Homens há que temem a luz da verdade, como os morcegos a do dia ou do fogo.

3677- Os homens de curto entendimento são insuportáveis em companhia; mais egoístas que os outros, só falam em seus negócios, interesses, atos, pretensões e família, e se julgam muito importantes para ocupar a atenção da espécie humana.

3678- A verdade é uma, incapaz de variedade; mentira pode ser variada por infinitos modos sem perder a sua essência e natureza.

3679- A gente moça não sabe apreciar os bens de que goza, nem avaliar os males que não padece.

3680- As mentiras têm uma leveza e velocidade admiráveis; o passo das verdades é firme, grave e majestoso; aquelas correm alterando-se, estas chegam tarde mas inteiras e não faltam.

3681- A superstição é filha da ignorância e produto de idéias falsas a respeito de Deus e fenômenos da natureza; o meio mais eficaz de a reduzir ou extirpar é o estudo das ciências naturais com que se consegue uma noção mais clara da natureza e atributos divinos e se dissipam muitos erros, ficções e entidades fabulosas, criaturas da ignorância, imaginação e impostura humana.

3682- Para a educação dos homens são boas as máximas, preceitos e conselhos, mas é superior a tudo a experiência com o sofrimento.

3683- O maravilhoso na história faz duvidar da verdade dos seus fatos.

3684- Deus é a riqueza por essência, os seus tesouros são imensos, e inexaurível a sua beneficência.

3685- O avarento é mau para si, o pródigo para si e para os outros.

3686- Vivemos ao abrigo da providência de Deus sem a vontade do qual nem um só cabelo poderia cair das nossas cabeças.

3687- A fraqueza do organismo corporal nos velhos é compensada pela reflexão e prudência, qualidades que suprem ou superam a força.

3688- São ordinariamente as pessoas menos capazes de dirigir o barquinho dos seus negócios os que mais ambicionam o comando e o governo da nau do Estado.

3689- Tudo é vida no universo, os mesmos mundos são criaturas vivas de superior natureza e hierarquia: a terra é animal crustáceo com uma concha de muitas léguas de espessura, o trabalho humano se exerce sobre a sua superfície, que sendo produtiva mantém os viventes que nele se criam e são suas produções e parasitas. A atmosfera é a sua transpiração, e como os peixes respiram pelas guelras, o animal mundo recebe e rejeita alternativamente as águas do mar, o que constitui as marés.

3690- Não pode haver concitação entre doutrinas e partidos diametralmente opostos: são indispensáveis combates, vitórias, derrotas, vencedores e vencidos.

3691- Os que sabem menos são ordinariamente os que falam mais.

3692- Os entes criados para viverem em sociedade são bons, nem podem ser maus por natureza: uma natural malignidade seria adversa aos seus instintos de sociabilidade.

3693- Quem não tem juízo perde o favor dos homens e da fortuna.

3694- Tudo o que tem ação sobre os objetos circunstantes, sendo também por eles impressionado e alterado, é necessariamente mortal e destrutível.

3695- Admiramos os escritos e obras de alguns literatos e artistas que desprezamos por seu irregular procedimento, extravagância e falta de juízo e exatidão na vida familiar e social.

3696- São poucas as verdades como as cores primitivas, inumeráveis os erros, como as compostas e combinadas.

3697- A ciência do homem observador da natureza é derivada da sabedoria divina revelada em suas obras.

3698- Nas revoluções populares os insignificantes, néscios e velhacos alcançam uma importância que lhes dura pouco tempo e acaba pelo desprezo e esquecimento.

3699- Deus não desconhece nem se esquece das suas criaturas sensíveis: todas estão presentes à sua imensa compreensão para as beneficiar e felicitar nos inumeráveis mundos em que as criou e residem.

3700- Os maus pensamentos geram e produzem as más ações.

3701- Os erros e fábulas interceptam o caminho que conduz às verdades; estas ainda que luminosas não podem sempre romper a névoa espessa que as eclipsa e hostiliza.

3702- Os néscios e velhacos evitam a companhia e sociedade dos homens doutos e probos que podem distinguir e avaliar a sua ignorância e improbidade.

3703- O silêncio promove a reflexão, o ruído a perturba ou afugenta.

3704- Os sustos e receios formam uma grande parte da miséria humana: sofremos talvez mais receando os males futuros do que se fossem presentes.

3705- A ignorância é a causa principal de todos os nossos males: se soubéssemos como Deus, seríamos impassíveis e imortais.

3706- São desagradáveis e intoleráveis as mulheres, quando, saindo da esfera feminina, tomam o caráter masculino.

3707- Se entre os viventes são os homens os que gozam mais dos prazeres sensuais da natureza e indústria própria, também por contrapeso sofrem muito moralmente pelas opiniões divergentes, crenças absurdas e paixões desregradas que os atormentam em sua vida terrestre e social.

3708- O abuso de felicidade nos faz cair em desgraça; o excesso dos prazeres em seus diversos ramos nos conduz à pobreza, miséria, enfermidades e muitos outros males naturais e sociais.

3709- Os que sofrem e padecem não desesperam recorrendo a Deus e confiando na sua bondade infinita e indefectível proteção.

3710- Cremos em teoria o que não acreditam na prática. Quem faria o mal se tivesse uma íntima convicção de que Deus está presente a todos os atos humanos?

3711- A gente moça muda de opiniões como de vestidos e modas: não tendo idéias claras e determinadas, nem sistema de vida fundado em sólida ciência e longa experiência, flutua entre diversas doutrinas, sem convicção plena da verdade de alguma delas.

3712- Os prazeres que nos fornece a natureza são geralmente gratuitos, os da indústria e inteligência humana, dispendiosos; requerem trabalho para a sua produção, e o trabalho tem um valor e preço necessário nos mercados deste mundo.

3713- Para estabilidade da ordem e tranqüilidade pública, os inteligentes levam-se pela razão, os néscios, pelo medo ou castigo.

3714- Os anos rodando sobre nós deixam nas rugas do nosso rosto os estigmas da sua ação e da velhice.

3715- A garrulidade nos moços e mulheres é argumento do seu pouco saber ou juízo.

3716- Este mundo é feito para todos os viventes que nele se criam, mas com especialidade para o homem sábio que estudando a natureza ou as obras de Deus o ama, adora e admira, exultando de ser criatura sua com suficiente inteligência para reconhecer a sua paternidade criadora e o benefício incomparável de havê-lo admitido pela vida ao espetáculo assombroso do universo, fazendo-o comensal no banquete universal da natureza.

3717- A velhice prolongada é morte lenta e demorada.

3718- Somos bons consoladores, e muito maus sofredores.

3719- O homem de muito saber e juízo é um flagelo para si e para os outros, pela exatidão, atenção, discernimento e inteligência que deles exige e espera, mas não pode obter ordinariamente.

3720- Os velhos se entretêm com um pretérito que foi real e concreto, os moços, com um futuro fantástico e ideal.

3721- Os validos perdem os que governam, não sendo homens de ciência, experiência, prudência e consciência.

3722- A nação mais imoral e corrompida é a que contém mais ingratos, invejosos e traidores.

3723- É o homem o único vivente neste mundo a quem Deus conferiu a faculdade de fazer uso do fogo, o que prova a superioridade da sua inteligência sobre a de todos os animais.

3724- Exigir dos moços juízo e prudência é pretender que os frutos verdes tenham o sabor e perfume dos maduros.

3725- Com pouco saber admiramos os homens, com muito, somente a Deus.

3726- A matéria não é substância, mas a forma contingente, aparente e fenomenal com que se manifestam os espíritos, substância primitiva, real e universal, a qual se compõe de átomos indivisíveis e imperceptíveis aos nossos sentidos, enquanto separados e distintos uns dos outros sem extensão sensível, forma, figura, densidade e individualidade.

3727- Os talentos mal dirigidos e aplicados fazem a desgraça dos que os possuem.

3728- Os velhacos são cavaleiros, os tolos, cavalgaduras.

3729- Os velhacos lidam muito e lucram pouco.

3730- Distinguem-se os homens de bem pela sua escrupulosa pontualidade, e os velhacos pela sua escandalosa inexatidão.

3731- Os homens são verdadeiros prismas orgânicos em que a luz misteriosa da sabedoria divina, penetrando, se refrange e aparece dividida em variados talentos, engenhos e aptidões intelectuais.

3732- O remorso ou a consciência acusadora acompanha os maus por toda a parte, nem os deixa um só instante: não é este o menor castigo das suas malfeitorias.

3733- Cada ano, como cada século que passa, vai onerado de casos, eventos e fenômenos que os distinguem dos antecedentes e os constituem originais na ordem dos tempos e evoluções da humanidade.

3734- Há ocasiões e circunstâncias em que é vantajoso mal ver, mal ouvir e não poder falar.

3735- A suprema perfeição existe no infinito, o limitado é sempre imperfeito como tal.

3736- Se os homens não fossem passíveis, seriam ingovernáveis.

3737- O imenso e infinito não têm figura, compreendendo aliás tudo quanto existe figurado.

3738- Não distinguimos bem a ação da providência divina porque os homens são ordinariamente os instrumentos e executores das suas justas disposições.

3739- De todas as paixões a ambição é a origem dos maiores crimes e males: ela emprega indistintamente todos os meios bons e maus para chegar aos seus fins de riqueza, poder e mando.

3740- O eterno e infinito, amando-se, amam também todas as suas criaturas que compreende na sua imensidade.

3741- Quando chegamos a ter uma idéia ou noção mais sublime de Deus, sua natureza e atributos, prezamos a vida e não receamos a morte.

3742- A gente moça não sabe avaliar perfeitamente as vantagens da mocidade, é a velhice que melhor as contrasta e reconhece.

3743- Deus é de uma natureza misteriosa e incompreensível a todas as suas criaturas; se houvesse alguma que o compreendesse seria outro Deus.

3744- Antecipar pela imaginação os males que têm de vir é sofrer duas vezes ou dobradamente.

3745- Sem o mal que seria o bem? Palavra sem sentido que nada significa.

3746- O jogo da vida e sociedades humanas compõem-se de ação e reação, atração e repulsão, simpatia e aversão, amor e ódio: destes elementos contrários e antagonistas resultam o equilíbrio, ordem e harmonia social.

3747- Em política, as conversões são tão freqüentes quanto maiores são as vantagens que se antolham aos que mudam de opiniões e doutrinas.

3748- Tudo o que Deus faz, fez, constituiu e ordenou, é o melhor possível: a mesma morte é um bem incomparável suposta a decadência progressiva dos nossos corpos, condutores por fim de males e dores, mas não de bens e prazeres.

3749- A vaidade e orgulho dos homens provam a sua profunda ignorância; seriam modestos e humildes se bem conhecessem a sua pessoal insignificância no sistema parcial deste mundo e geral do universo.

3750- É um recurso incalculável nas vicissitudes e males da vida, a esperança e confiança em Deus.

3751- A riqueza tem sempre companhia, a sabedoria vive em solidão.

3752- Aprendemos gozando, quando estudamos a Deus nas suas obras.

3753- A sabedoria é um dom de Deus pelas circunstâncias especiais em que faz nascer e viver aqueles a quem há por bem conferir tão eminente prerrogativa.

3754- Devemos regular a nossa vida de modo que possamos esperar e não recear depois da nossa morte.

3755- Os sábios nunca foram nem serão validos dos príncipes: são inábeis observadores da etiqueta e cerimonial das cortes, não podem mentir nem adular, e menos intrigar e cabalar para suplantar a uns e precipitar a outros, nem finalmente ocupar-se e entreter-se com as companhias, conversações e controvérsias palacianas.

3756- Quando pedimos a Deus que nos livre dos males que sofremos, podemos desconfiar da nossa indignidade, mas nunca duvidar da sua infinita bondade e beneficência.

3757- É o nosso corpo quem nos individualiza e provoca a consciência de que existimos sem ele ou outro qualquer organizado não poderia a unidade misteriosa a que chamamos alma ser consciente da sua existência própria.

3758- Não sabemos nem podemos avaliar exatamente os bens da vida, quando não temos experimentado os males que os contrastam; há muita gente feliz que desconhece a sua própria felicidade.

3759- Querendo figurar a Deus, sentimo-nos impedidos pela noção de sua imensidade que não admite limitação no espaço: é a infinita variedade das suas obras assombrosas que o figura aos nossos olhos mortais e materializa os seus divinos atributos.

3760- Pessoas há em ambos os sexos péssimas para mandarem e governarem, mas excelentes para servirem.

3761- Como seria insípida a vida se todos soubéssemos a verdade em tudo! É talvez à variedade inexaurível de erros, fábulas, ficções e ilusões que os homens devem grande parte da sua felicidade neste mundo.

3762- O Dominador eterno dos átomos, o Criador dos mundos e do universo, se personaliza de algum modo na fábrica imensa da criação, obra assombrosa e misteriosa da sua infinita Sabedoria, Poder e Bondade; revelação perene da sua existência eterna, ela anuncia e proclama a imensidade dos seus divinos atributos.

3763- Se os homens não variassem de idéias, opiniões e circunstâncias, os seus produtos materiais e intelectuais seriam idênticos e uniformes sem novidade nem variedade.

3764- Os bens e os males constituem neste mundo um sistema especial e se harmonizam para a renovação, conservação, e perpetuidade do mesmo mundo.

3765- Poesia e mitologia têm sido as fontes dos maiores erros e disparates do gênero humano.

3766- Os moços dissipam a vida pelos excessos a que se entregam, os velhos economizam o seu remanescente pela dieta e regime que são forçados a observar.

3767- Nunca nos enganamos quando pedimos e esperamos de Deus o alívio ou remoção dos nossos males: no ato mesmo de recorrermos à sua infinita bondade experimentamos e reconhecemos algum melhoramento na nossa sorte.

3768- Os erros dos homens entram como elementos indefectíveis na ordem e série dos casos, sucessos e eventos da espécie humana: sem eles, não haveria a variedade infinita de acontecimentos privativos da vida humana, com que se ocupa a história geral e particular da humanidade.

3769- Grande ciência, vasta incerteza.

3770- As crenças religiosas são recebidas geralmente pelos homens como as moedas correntes sem o prévio exame do seu peso, quilate e valor intrínseco e real.

3771- Uma nação já não é bárbara quando tem historiadores.

3772- Somos passíveis por tantos modos no físico e moral que não há dia em que não soframos mais ou menos de uma ou de outra ou de ambas as maneiras pelos acidentes que ocorrem infinitamente variados.

3773- Gozar e sofrer, sofrer e gozar, gozar sofrendo, e sofrer gozando: eis o quadro da vida humana.

3774- A religião conforta os fracos, e abranda os fortes.

3775- Todos os átomos indivisíveis ou espíritos hão de ter a sua vez na sucessão dos tempos de sentir e pensar, cabendo-lhes a ocasião de achar-se colocados em certos pontos centrais dos corpos organizados, por cujas impressões, sendo excitados ao exercício das faculdades sensíveis e mentais, conseguem a regência e administração dos mesmos corpos.

3776- Pouco sabemos deste mundo, e dos outros inteiramente nada.

3777- Os validos nas monarquias sobem e descem como os alcatruzes nas noras.

3778- Nas monarquias representativas os que se inculcam por democratas ou são tolos que merecem ser desprezados, ou velhacos que se apresentam à venda e desejam ser comprados.

3779- Há sucessos em nossa vida que julgaríamos impossíveis se nos fossem preditos e que chegam a realizar-se por uma série de eventos e circunstâncias não previstas nem imagináveis.

3780- Os validos, por velhacos, conseguem em pouco tempo o que não alcançam em toda a vida os mais honrados, ativos e leais servidores dos monarcas.

3781- É necessário que nos finjamos loucos algumas vezes para que muita gente se persuada que temos juízo.

3782- Muito fraca ou imprudente é a monarquia que faz aliança com os seus próprios inimigos para se manter!

3783- Não podemos avaliar a justiça de Deus; é incompreensível pela sua perfeitíssima retidão e imparcialidade.

3784- Só Deus é perfeitíssimo porque Deus somente tem em si a causa da sua existência e duração eterna.

3785- Desde que existimos e sentimos, não podemos ignorar o bem e o mal; sentir é gozar e sofrer.

3786- Os animais devem tudo à natureza, os homens, muito à sociedade.

3787- Se não existem habitantes nos planetas de Júpiter, Saturno e Herschel, para que servem ao primeiro quatro satélites ou luas, ao segundo sete, e ao terceiro seis? Uma iluminação lunar sem viventes que a gozem é fato fenomenal inexplicável.

3788- Quem sabe quais serão as vicissitudes da sua vida, onde, como, e quando terá termo esta mesma vida? Em um mundo onde tudo é mudança e alteração, ação e reação, os sucessos são tão incertos e contingentes que se não podem prever nem prevenir. Uma constante resignação com a Vontade Onipotente de Deus e sua Divina Providência sobre os sucessos futuros é o mais eficaz e salutar corretivo às dúvidas e incertezas da vida e sorte humana.

3789- Há grandes verdades para os sábios, que parecem aos néscios disparates.

3790- A aliança com os maus é sempre funesta aos bons.

3791- Os príncipes ganhariam muito na opinião pública se visitassem os sábios, onde os há, para haver deles doutrina, verdades e conselhos que não podem receber dos seus cortesãos e aduladores, gente ordinariamente indouta, interesseira e ambiciosa.

3792- A filosofia solapa e derruba as religiões, mas não as pode substituir.

3793- O nascimento enobrece a alguns, o procedimento, a muitos.

3794- Os validos dos príncipes não são ordinariamente os melhores servidores do Estado.

3795- Os validos dos príncipes nunca se crendo bem pagos dos sacrifícios que fizeram do seu amor próprio para chegarem à privança, abusam escandalosamente dela para se saturarem de honras, empregos, autoridade e riqueza.

3796- Não pode haver harmonia sem contrários, desiguais e dessemelhantes.

3797- O mundo não se renova somente em viventes e coisas, mas também em doutrinas e opiniões.

3798- No teatro da natureza, os bens e os males trocam freqüentes vezes os papéis e representam diversos do que são.

3799- A responsabilidade dos viventes acaba com eles, e a morte lhes salda as contas.

3800- Perdida a sensibilidade, acaba a responsabilidade.

3801- O juízo chega tão tarde a muita gente que não pode já restaurar a saúde arruinada por falta dele.

3802- A doutrina do otimismo universal é a mais segura, sólida e compatível com a noção da existência eterna de um Deus infinitamente sábio, poderoso, bom, justo e providente; autor e criador do universo.

3803- O ceticismo requer ciência, a credulidade a dispensa.

3804- Deus sendo o idealismo por essência, os homens não podem elevar-se a uma noção sublime do seu ser e atributos senão pelo materialismo que é a sua revelação simbólica, sensível e objetiva.

3805- Como o fogo nas operações da natureza, o dinheiro, nas dos homens, é o agente mecânico mais poderoso.

3806- O possível não tem limites para Deus: é infinito por ele e para ele.

3807- A velhice é um mal incurável de que só a morte nos pode libertar.

3808- As revoluções transcendem ordinariamente os limites com que seriam proveitosas às nações.

3809- A civilidade é tanto mais importante em uma nação quanto esta é menos ilustrada e moral: é necessário simular virtudes onde as não há ou deixaram de existir.

3810- O estigma da rebelião fica indelével nos rebeldes ainda mesmo depois de anistiados.

3811- A maior parte das nossas esperanças sai frustada porque calculamos com a permanência de circunstâncias sempre incertas e variáveis.

3812- As nações novas não medram, antes se atrasam, querendo adotar e copiar servilmente as instituições civis e políticas da nações velhas mais ilustradas e civilizadas.

3813- O suicídio é muito raro nas pessoas idosas e achacadas e ordinário na gente moça e de meia idade que goza de saúde vigorosa.

3814- Nada pode suceder no universo que não esteja compreendido no sistema geral da ordem constituída pela Infinita Sabedoria de Deus na criação universal: devemos portanto resignar-nos com a sua Divina Vontade na ocorrência de quaisquer fenômenos e acontecimentos que pareçam contrários ao nosso cômodo ou felicidade na consideração de que não são vagos e fortuitos, mas predeterminados para o bem geral no sistema assombroso e misterioso do universo.

3815- Os maiores absurdos e disparates com o nome de mistérios têm sido admitidos e acreditados pelos homens em todos os séculos e idades.

3816- Homens há importantes por nascimento, insignificantes pelo seu procedimento.

3817- O jogo dos interesses, opiniões e paixões individuais no trato da vida familiar, social e política dos homens é tão natural e conseqüente com a natureza humana, que não devemos estranhar a sua oposição, divergência e exorbitância, antes admirar como se coordena e contribui para e felicidade do gênero humano, sua conservação e renovação no teatro deste mundo.

3818- A credulidade cega dos homens faz duvidar em muitos casos da sua racionalidade.

3819- Um bem eterno, infinito e absoluto exclui um mal com os mesmos atributos.

3820- Deus sendo imenso infinito e incompreensível é uma unidade que, compreendendo tudo, não pode ser compreendida ou limitada por coisa alguma.

3821- Aquele que se embriaga por ocasião de sucessos felizes, afugenta e perde com o juízo a genuína alegria.

3822- Deus não só sabe tudo, Ele é o manancial eterno de toda a ciência, verdades e relações reciprocas das entidades que criou e tem de criar por toda a eternidade com variedade e novidade assombrosas.

3823- O homem é o animal vivente que goza muito mais que qualquer outro, sofrendo aliás em maior escala e variados modos.

3824- Como sabem os nossos nervos, músculos e tendões que devem obedecer imediatamente à nossa vontade no movimento dos nossos membros e distintos serviços do nosso corpo? Eles não a conhecem, nem o nosso espírito os distingue e menos compreende a natureza e variedade das suas funções. Eis aqui um mistério profundíssimo que só se pode explicar dizendo-se que a Vontade Onipotente de Deus quis que a nossa individual fosse obedecida instantaneamente pelos membros e partes do nosso corpo por uma verdadeira harmonia preestabelecida pela sua onipotência.

3825- É quando as flores desabotam e os frutos amadurecem que deleitam a vista, olfato e paladar: assim também os homens chegando à virilidade e madureza ostentam os primores da sua força, engenho, indústria e inteligência.

3826- A vida muito refletida não é a mais aprazível.

3827- Sem prévia inteligência, pouco ou nada aproveita a experiência.

3828- Sem cobres, pouco valem nobres.

3829- Custa menos o ter a privança dos príncipes que o valimento dos povos.

3830- O espírito ou caráter democrático é geralmente vilão, brutal, cínico, tacanho e orgulhoso.

3831- Homens há tão ambiciosos de riqueza como outros de ciência; estes têm a vantagem, pressuposta uma outra vida, de levar e aproveitar o seu cabedal, aqueles, pelo contrário, perdem necessariamente os seus capitais, sendo forçados a deixá-los pela morte.

3832- O mal físico é um elemento necessário e indispensável no sistema deste mundo, sem ele, não haveria ação, arbítrio, movimento, emprego, nem ocupação alguma para os viventes que nele se criam e existem.

3833- O espírito de partido, o interesse individual mal entendido e as paixões exaltadas tornam os homens loucos e irracionais no intervalo em que dominam e prevalecem tais elementos de discórdia, confusão e alienação mental.

3834- Ainda que limitados no espaço, somos compreendidos em Deus, autor da nossa existência e vida.

3835- Exaltai a vossa idéia ou noção de Deus pelo estudo profundo das suas obras e vereis dissipar-se um turbilhão de erros, fábulas absurdas e disparates que infestam a razão humana, tolhendo o seu progresso na descoberta das verdades mais importantes.

3836- Não procureis regularidade no procedimento das pessoas literatas e artistas, é ordinária nelas a falta de exatidão e pontualidade em tempo, lugar, palavra, serviço e contas.

3837- Em política, o progresso e regresso se sucedem como nos mares o fluxo e refluxo alternadamente.

3838- Deus tendo criado o gênero humano, e dado-lhe o império da terra, conhecia bem o processo e atos da sua existência, a natureza, organização, instintos, paixões e faculdades dos homens sendo obra da concepção de uma sabedoria infinita, que demais proporcionou o sistema do mundo mecânico ao dos viventes que nele se criam, constituem a espécie humana o que deve ser e para o que foi destinada pelo criador do universo.

3839- O menor átomo infinitésimo está tão sujeito à vontade onipotente de Deus, como a maior dos mundos e o imenso universo; assim a matéria se figura e coordena pontual e passivamente, segundo os desígnios da eterna sabedoria.

3840- A bem-aventurança do sábio neste mundo consiste em pensar em Deus, estudando, gozando e admirando as suas obras maravilhosas.

3841- Vamos em progresso dizendo bem de todos e mal de ninguém.

3842- Que vastíssima ciência não conferirão aos homens as maravilhosas descobertas do telescópio e microscópio! de uma parte fizeram-nos distinguir astros e mundos de imensa grandeza em pontos luminosos na imensidade dos céus e do espaço, de outra, viventes inumeráveis de organização variada e incalculável em átomos infinitésimos imperceptíveis à nossa vista sem o auxílio de tais instrumentos. A sabedoria e poder divinos se revelarão por eles no máximo e mínimo da criação de um modo assombroso, o que devia necessariamente sublimar a noção que os homens tinham de Deus e seus divinos atributos.

3843- Quando vemos um homem moço sustentar obstinado uma opinião menos razoável, devemos desculpá-lo, na certeza de que com os anos há de defender, talvez com o mesmo calor e veemência, a contrária, desaprovada e combatida.

3844- Passamos a vida a invejar-nos, contudo, cada um de nós tem vantagens privativas e especiais, que nos indenizam dos que nos faltam.

3845- Gozamos melhor da vida quando não receamos morrer.

3846- O gênero humano foi destinado a pôr tudo em ação e movimento neste mundo planetário sendo agente e paciente ao mesmo tempo executa à risca as condições da sua natureza, que o impele à vida ativa, locomoção, trabalho, indústria, variedade e novidade em opiniões, produções, usos e costumes. O gênero humano é efetivamente o que deve ser, e nada mais nem menos.

3847- Sofremos por muitos modos positiva e negativamente, ideal e materialmente, e os males de imaginação não são ordinariamente inferiores aos reais e positivos.

3848- Agradeçamos a Deus os bens que nos liberaliza, e recorramos á sua bondade nos males que nos invadem.

3849- Toda a ciência vem de Deus, e se incorpora e individualiza de algum modo nas suas obras; Deus é o manancial eterno de todas as verdades, coisas e suas relações: as suas criaturas inteligentes nada podem saber, nem ter idéias e noções algumas que não seja pelo exercício e experiência da vida, e estudo da natureza, manifestação solene e perpétua da sabedoria e poder infinito da divindade.

3850- Os espíritos são átomos indivisíveis que se tornam viventes, sensíveis e inteligentes, colocados em certos pontos distintos e centrais dos corpos organizados destinados a servir-lhes de meio de comunicação com o universo externo e material, e a provocar deste modo o exercício das suas faculdades naturais, sensíveis e intelectuais.

3851- Deus é por essência a ordem, beleza e harmonia universal: a eternidade da sua existência excluiu sempre a do caos fabuloso, produto da imaginação e ignorância humana; as suas obras assombrosas, ocupando a imensidade do espaço, a testam a extensão ilimitada dos seus divinos atributos de sabedoria, poder, bondade e providência: Deus é a alma, a vida, ação e movimento do universo, que criou para nele felicitar as criaturas sensíveis e inteligentes, a quem deu e dá o ser para exercício perene da sua eterna beneficência.

3852- É triste e precária a condição das monarquias, quando recorrem aos anarquistas, demagogos ingratos, traidores, conspiradores e rebeldes para as sustentarem, conferindo-lhes poder, honras e autoridade, e permitindo-lhes que maltratem e persigam os bons, leais e genuínos monarquistas.

3853- A origem fabulosa e ridícula que os homens têm dado ao mal físico neste mundo é causa de inumeráveis, erros, absurdos e terrores que infestam o gênero humano e agravam a sua miséria. O autor da organização e sensibilidade corporal igualmente o é do bem e do mal, do primeiro como fim, e do segundo como ocasião, meio, instrumento, veículo e condutor de bens gerais e especiais.

3854- A nossa ignorância é tal que não a podemos avaliar por infinita.

3855- Quando sofremos, queixamo-nos da Natureza ou da fortuna, para nos justificarmos do procedimento que ocasionou os nossos males.

3856- Os príncipes ganham muito em viajar; aumentando a soma das suas idéias, dão maior extensão à esfera da sua inteligência.

3857- Os males multiplicam-se nos velhos, surgem de diversos órgãos do seu corpo gasto e usado pelos anos, prazeres, trabalhos e cuidados.

3858- O ciúme nas mulheres é horrível quando se reconhecem por feias ou velhas.

3859- Cada um dos mundos existentes no espaço, sendo uma concepção da sabedoria divina, não pode deixar de ser perfeitíssimo no seu todo, partes máximas e mínimas para o propósito e fim a que Deus o destinou no sistema geral do universo. Em vão se nos antolhem defeitos e irregularidades na sua estrutura e relações, é à nossa ignorância ou limitação de inteligência que devemos tais aparências de desordem e anomalias; a sabedoria imensa de Deus não podia produzir obra ou sistema que não fosse ótimo e perfeito na sua contextura, relações, meios, fins e destinação para exercício da sua eterna beneficência e felicidade das suas criaturas vivas, sensíveis e inteligentes. Se a mais pequena flor ou inseto é um compêndio e demonstração da sua sabedoria infinita, que diremos de um mundo, sistema solar e do imenso universo!

3860- Há verdades que nenhuma criatura, por mais sublime que seja a sua condição e categoria, poderá jamais conhecer: o seu conhecimento a faria igual a Deus, o que não é possível.

3861- Acordados ou dormindo sempre pensamos, mas não sentimos do mesmo modo; o espírito, sendo o mesmo, o corpo é diverso nos dois estados.

3862- Átomos viventes colocados em pontos diversos do espaço imenso, julgamo-nos imperceptíveis e indignos da atenção, providência e beneficência divina: tal opinião é um erro grosseiro, produto da nossa ignorância e irreflexão. Deus pela sua imensidade e incompreensível natureza ocupa o espaço infinito, anima e vivifica toda a criação, e se é licito assim dizê-lo, é sensível em todo o universo, em todas as suas partes máximas e mínimas e átomos infinitésimos, e portanto está presente a tudo, vela sobre tudo, e nenhum vivente, por mais diminuto que seja, está fora da sua providência benéfica, e bondade ilimitada.

3863- Os homens não têm nem podem formar idéia de substâncias imateriais, as almas e espíritos são considerados por eles como entidades corporais perceptíveis aos sentidos com forma, figura e lugar na espaço, capazes de ação e reação, e, quando muito, os reputam de uma substância material mais sutil e menos densa que a dos corpos viventes deste mundo.

3864- O mal de uns dá ocasião e origem ao bem de outros: os bens e males se entretecem e harmonizam no sistema deste mundo.

3865- A matéria não é menos misteriosa e incompreensível do que a inteligência, ambas porém se combinam, harmonizam e constituem o universo.

3866- São muitos os homens ocupados em propagar os erros, poucos em destrui-los e descobrir verdades.

3867- Deus é infinitamente perfeito não podemos compreender a imensidade de suas divinas perfeições.

3868- Os rebeldes anistiados maltratam e perseguem os homens leais e honrados.

3869- Deus é infinito e inexaurível em dar, beneficiar e fazer graças se tivéssemos uma fé firme, constante e profunda na sua beneficência e bondade, nada lhe pediríamos que não nos fosse concedido: sobejam em Deus poder, vontade e meios de atender-nos, mas falta em nós uma crença e esperança inabalável na sua paternidade criadora e liberalidade ilimitada.

3870- O pensamento está sempre em atividade, ainda quando o corpo parece mais preguiçoso.

3871- A sabedoria humana reconhece a sua própria limitação e, admirada do espetáculo assombroso do universo e das maravilhas sem conto que compreende, exclama no seu entusiasmo: imensa é a inteligência que concebeu e realizou no espaço o sistema vastíssimo e incompreensível da criação universal!

3872- Tudo na natureza é objeto de admiração e pasmo, mas sobretudo o desenvolvimento progressivo do gênero humano no teatro deste mundo.

3873- O fluxo e refluxo dos partidos políticos nos governos monárquico-representativos constituem a sua vida, ação e movimento, tendendo a estabelecer um certo equilíbrio, que nunca se verifica perfeitamente, e que produziria imobilidade sempre fatal aos Estados.

3874- Não podemos prever as vicissitudes da nossa vida; os eventos e circunstâncias que as determinam estão de ordinário fora do nosso alcance e arbítrio: um movimento geral em todas as direções ocasiona mudanças tais que encontram o nosso estado e o alteram profundamente em nosso dano ou proveito.

3875- Muitos nos altos empregos, julgando-se importantes ou necessários, dão ou pedem a sua demissão na esperança de que lha neguem ou não aceitem, e muito se agastam quando o contrário lhes sucede, vendo humilhado o seu amor-próprio e frustadas as suas esperanças.

3876- Estranha-se a simplicidade dos príncipes que conspiram contra si próprios, fazendo aliança com os ingratos, traidores, inimigos da ordem e monarquia, e esperando deles a defesa e segurança dos seus tronos e autoridade.

3877- Deus ab aeterno é criador, nunca deixou nem deixará de ser tal; na imensidade do espaço, uns mundos se extinguem, outros se formam sempre diversos na sua estrutura e habitantes: o universo se renova constantemente por partes com variedade e novidade. A sabedoria de Deus sendo infinita e inexaurível, tem necessariamente de exercer-se, ideando novos sistemas e entidades e a sua onipotência em realizá-las no espaço e tempo por maravilhas sem conto, destinadas a felicitar as suas criaturas vivas e inteligentes, às quais conferiu parcelas infinitésimas do seu ser, vida, inteligência, ação, poder, movimento e felicidade.

3878- Os validos são plantas parasitas de natureza efêmera, que não podem sobreviver ao arvoredo que lhes dá arrimo, importância e subsistência.

3879- Se conhecêssemos a verdade em tudo, na sua pureza genuína, não seríamos homens, mas criaturas de diversa natureza ou deuses.

3880- Deus não dá todos os bens a uns e os nega a outros: há uma igualdade na desigualdade de condições, que demonstra a bondade, justiça e providência de Deus, na distribuição dos seus dons pelos homens e países.

3881- É tal a variedade dos modos de sentir em nós gozando e sofrendo que se torna impossível distingui-los, numerá-los e ainda mesmo classificá-los.

3882- Devemos ter medo da ignorância e fraqueza dos homens; mas da infinita Sabedoria e Onipotência de Deus, de que é conseqüência necessária a sua bondade paternal e ilimitada, é loucura rematada.

3883- Sem a precedência e ação da inteligência, a matéria não teria forma, figura, destino e aplicação alguma.

3884- Procura-se dinheiro por toda a parte, ciência, quanto seja necessária para o conseguir.

3885- Não tivemos escolha da época de nossa existência no universo, nem do mundo em que devíamos existir: neste em que vivemos, não tivemos igualmente arbítrio sobre a nossa forma vivente, nação, pátria, sexo, país, religião, governo, usos e costumes: tudo isto foi obra da divina providência, que nos criou e constituiu tais como quis que fôssemos.

3886- A morte é extinção para o corpo e promoção para a alma.

3887- Formou-se em nós tempestades como nos mares, e quanto mais violentas se figuram, tanto maior e mais durável é a bonança que se segue.

3888- Não podemos gozar sem sofrer: o mal é ocasião de inumeráveis bens neste mundo em que existimos.

3889- A bondade de Deus se exerce por infinitos modos, feliz aquele que, recorrendo a ela, espera e confia em Deus.

3890- Os sustos e receios nos incomodam e atormentam mais nesta vida terrestre do que os males reais que nos invadem e sobressaltam.

3891- A fábrica deste mundo e o caráter geral do gênero humano são tais como a sabedoria infinita de Deus o concebeu e constituiu: as irregularidades, contradições e anomalias que se nos figuram no seu jogo complexo e misterioso são obra da nossa ignorância e diminuta inteligência.

3892- A ambição para chegar aos seus fins, umas vezes professa o cinismo, outras, o epicurismo.

3893- Nas opiniões humanas, têm o estômago e barriga uma influência muito poderosa.

3894- O moço resolve-se com brevidade, o velho, com muita dificuldade.

3895- Fala-se em um outro mundo, os nossos olhos avistam milhões deles, que abrilhantam com a sua luz solar a imensidade do espaço.

3896- A noção ou idéia de espírito é negativa, sabe-se o que não é, ignora-se o que seja.

3897- É depois de velhos que nos chegam bens de que já não podemos gozar, e nos faltam outros importantes ou indispensáveis a uma feliz existência.

3898- Todas as formas de governos têm suas vantagens e inconvenientes privativos e especiais, nenhuma está isenta destes, ainda que goze de uma grande maioria daquelas.

3899- O bem e o mal trocam seu nome conforme a inteligência dos que o sentem, suas relações e circunstâncias.

3900- Contrastam bem as cabeças vulcânicas dos moços com as regeladas dos velhos.

3901- Tudo foi previsto, providenciado e coordenado por Deus, no todo e partes da criação universal: nenhum fenômeno, acidente ou sucesso Lhe pode ser estranho. O autor das essências de todas as entidades e coisas é também necessariamente a origem de todas as circunstâncias efetivas e possíveis, e conseqüentemente o principal motor de todos os casos ocorrentes, presentes e futuros, salva todavia a liberdade individual, muito restrita e limitada, das suas criaturas sensíveis e inteligentes.

3902- É incompreensível a extensão infinita da bondade e providência de Deus para com as suas criaturas vivas e inteligentes; estas, sendo limitadas em tudo, não podem formar idéia do ilimitado dos seus divinos atributos.

3903- Homens há que, pela extensão e profundidade dos seus conhecimentos, são incompreensíveis aos outros homens em suas doutrinas e opiniões.

3904- Uma religião do Estado ou dominante é essencialmente intolerante.

3905- A eternidade é privativa de Deus, fora dela, tudo é temporário, destrutível e mortal.

3906- O pensamento, onde existe, tem por assento e objeto a extensão.

3907- Os homens mais doutos e científicos não são os que menos desatinam em assuntos políticos e religiosos.

3908- Usamos e servimo-nos dos membros do nosso corpo, sem compreendermos o como, e porquê eles obedecem tão pontualmente à nossa vontade.

3909- Uma eternidade de penas e dores seria a sorte inevitável da velhice, se fôssemos imortais.

3910- O arrependimento reconhece o crime, o remorso principia a castigá-lo.

3911- A aliança com os maus, anarquistas, demagogos, insurgentes e rebeldes é o maior argumento da fraqueza e imprudência das monarquias absolutas ou representativas.

3912- A imaginação encanta os moços, a reflexão desencanta os velhos.

3913- As virtudes embalsamam o ar, os vícios o corrompem.

3914- A vida dos velhos é penosa para eles e incômoda para os outros: a morte é o remédio especifico para todos os seus males.

3915- Nos céus, tudo são luzes, na terra elas se alternam com as trevas.

3916- A celebridade dos grandes crimes perpetua a sua infâmia e execração.

3917- Escrevi para todos, para muitos e para poucos: assim se explicam algumas contradições que se encontram nos meus escritos.

3918- É sábio o homem que se refere, em tudo e por tudo, a Deus; à Sua bondade, justiça providência em todos os acontecimentos da sua vida e fenômenos da natureza.

3919- Luz do sol, maravilha da criação! Tu afugentas as trevas, patenteias o mundo, individualizas e distingues os objetos à nossa vista: tudo animas, aqueces, vivificas... Mas, sem olhos, de que serviria a luz? Luz e olhos bastariam para demonstrar a existência de Deus, Seu infinito poder, sabedoria e bondade.

3920- Os democratas, lazzaroni e farroupilhas servem-se, com vantagem, do cinismo, para chegarem ao epicurismo, objeto dos seus votos.

3921- Sem os males da vida, não teriam os homens em que se entreter.

3922- Definem-se os homens -animais racionais-; quanto à primeira parte, de acordo; mas a segunda, lá tem que se lhe diga.

3923- Um velhaco acha sempre outro que o desbanca.

3924- Aprendemos até morrer; mas na velhice, pela decadência do corpo, são mais penosas as lições.

3925- Os males do corpo humilham nosso orgulho intelectual, mostrando que, para nos libertarmos deles e da morte, não temos ciência e saber.

3926- Os avaros não podem fazer testamento; arrepiam-se da palavra -Deixo!

3927- Velhice é doença crônica: remédio, a morte.

3928- Louvor de uns, admiração de outros, respeito de todos, são a mais prezada recompensa dos sábios, por seus escritos de imortal memória.

3929- A nação francesa tem mais engenho e menos juízo que a inglesa.

3930- A corte é o paraíso dos néscios e o purgatório dos sábios.

3931- Maiores nos figuramos em recinto estreito do que em espaçoso local.

3932- Bens e prazeres são variados até o infinito; males e dores têm limitada extensão.

3933- Na decrepitude, não pioramos de condição pela morte; se deixamos de gozar, também cessamos de sofrer.

3934- Os filósofos lastimam a irracional credulidade dos povos. Os povos lamentam a perigosa incredulidade dos filósofos.

3935- Se o sábio cala, não é conhecido; se diz o que sabe, está perdido.

3936- A maior desgraça de um homem seria o ser sábio, no meio de bárbaros e ignorantes.

3937- A nação mais ignorante é para onde concorrem e prosperam os charlatães menos sagazes e mais audazes.

3938- Os homens, trabalhando por se enganarem mutuamente, preenchem o seu empenho; mais ou menos, todos vivem enganados.

3939- Os tolos provocam os que o não são a fazerem-se velhacos.

3940- O louvor que os homens prezam mais é de ter juízo; as mulheres, de serem formosas.

3941- Quando mesmo uma boa causa não seja feliz, honra a quem a defende.

3942- O elogio que mais saboreamos é de ordinário o que menos merecemos.

3943- Querendo gozar muito dos prazeres dos sentidos, tornamo-nos menos virtuosos e mais dependentes dos homens e das coisas.

3944- Os vícios tornam-se adultos e envelhecem com o homem.

3945- Tanto é rara a sabedoria, quanto o juízo vulgar.

3946- A dissimulação repugna aos grandes homens, mas é indispensável aos governantes.

3947- Acaso! que é ele! Um subseqüente pressupõe um antecedente que o determinou, e assim se caminha por uma série ascendente, só haveria acaso se um evento não estivesse conexo com outros anteriores: mas acaso só significa: ignorância da causa que produziu o fenômeno na espécie humana ou na natureza.

3948- Ludibrio das circunstâncias, os homens são ordinariamente o que elas os fazem, e não o que eles querem ser.

3949- As disputas entre os homens denunciam sua ignorância.

3950- A opinião mais absurda é sempre a que os tolos têm mais tendência para seguir.

3951- Há verdades importantes, mas intempestivas, que comprometem os que as formulam: e isto sem proveito público e com perigo particular.

3952- Tendo o mal físico a Deus por autor, não pode existir senão para fins benéficos, gerais e especiais.

3953- Velhos há cujo procedimento honesto é menos devido à virtude que à impotência.

3954- Pode haver ciência, engenho, talentos, sem juízo.

3955- Há na velhice prazeres especiais: suaves recordações de um pretérito longo não são por certo o menor.

3956- Certo silêncio mais persuade que a palavra.

3957- Deus é caluniado pelos néscios e exaltado pelos sábios.

3958- Com más compras e piores vendas, bem depressa empobrecemos.

3959- Ousaria afirmar que as minhas obras são, de algum modo, de inspiração divina, se para isso bastasse o haver-mas sugerido, em grande parte, o estudo da natureza.

3960- Mais exato fora Descartes, dizendo: -Sentio, ergo sum / -do que- Cogito, ergo sum! A faculdade de sentir antecede a de pensar.

3961- A morte nos torna impassíveis. Oh! que benefício para os que padecem, sem esperança de alivio ou melhoramento de seus males!

3962- Um prazer prolongado passa a tornar-se dor.

3963- Vaidade nas mulheres, ambição nos homens, revolvem as sociedades.

3964- Sem uma unidade sensível e inteligente, não pode haver Eu entre os viventes. O que esta unidade seja, ignoramo-lo; mas sabemos que é indispensável.

3965- Não ofendais o homem justo! Tem a Deus por vingador.

3966- O exercício comercial e militar habitua o homem a certa ordem e pontualidade, que se não acham nas outras profissões, mormente de literatos e artistas.

3967- A maior ignorância é a dos que nada admiram. Assim sucede aos animais, que não sabem avaliar nem conhecer os fenômenos e maravilhas da natureza.

3968- Sou um ponto na imensidade do espaço. A minha vida é um instante na eternidade do tempo. Só Deus é imenso e eterno, compreendendo, no seu ser misterioso e incompreensível, a imensidade e a eternidade.

3969- Há vícios que se contrapõem; as virtudes sempre se ajustam. O incompreensível é indefinível: tal é Deus!

3970- Homens há tão insignificantes, que não têm amigos: não são amados nem aborrecidos: vivem e morrem anônimos.

3971- Os desenganos da velhice são inúteis para os moços; e aos velhos já não aproveitam.

3972- A morte dá a uns importância, e tira-a aos outros.

3973- Tenho sobrevivido a muita gente que nunca pensou que tal sucedesse.

3974- Há segredos, de natureza tal, que é imperdoável imprudência o descobri-los.

3975- Pobreza não excita inveja: por mais que procure, não lhe acho outra vantagem.

3976- Para Deus não há segredos, que tudo lhe é patente. Tenham os maus presente sempre esta verdade.

3977- A pobreza não tem os embaraços e cuidados da opulência; mas tem os da sua condição, que não são inferiores.

3978- A inveja, para mor tormento seu, exagera muito o valor dos bens que cobiça.

3979- Não há pior desgraça, para um homem bem criado, do que é dever obrigações a um vilão ruim.

3980- Os príncipes são por vezes ingratos; os povos são-no sempre.

3981- Os elementos de formação e destruição, de vida e morte, se ajustam e harmonizam, por um modo maravilhoso, para a renovação, conservação e perpetuidade deste mundo.

3982- Para que os bens sejam mais duráveis, são os males que deles nos ensinam a usar.

3983- A morte é mal ou bem, segundo os estados e circunstâncias da vida. Com saúde, vigor, e exercício pleno e livre dos sentidos e faculdades corporais e mentais, na fruição dos gozos da existência, é penosa a morte: mas em um estado inválido, de enfermidade crônica; em uma idade proveta e decadente, com dores e cuidados sem esperança de melhoramento, com o corpo usado, gasto, veículo de males e penas, já não de prazeres e agradáveis sensações, a morte é o maior dos bens, porque, tornando-nos impassíveis, nos salva de todos os males.

3984- Como havemos do esquecer que temos corpo se ele nos importuna incessantemente com as suas requisições?

3985- Quanto mais um homem se inculca importante, mais insignificante é.

3986- Estudos há que não conduzem à sapiência, antes agravam a ignorância.

3987- Raro somos o que queremos ser, mas sim o que as circunstâncias permitem que sejamos.

3988- Se não somos senhores das circunstâncias, como o seremos de nós mesmos?

3989- Os homens audazes em escrever não são, por via de regra, os mais profundos em saber.

3990- Deus, porque é incompreensível a todos, compreende tudo.

3991- Preza-se a vida mais, quando na velhice: menos mal.

3992- Os dobres e repiques dos sinos simbolizam as vicissitudes da sorte humana.

3993- Quanto existe e sucede na natureza é natural: só Deus é sobrenatural.

3994- Como a luz e a sombra, o bem e o mal estão sujeitos às leis de um sistema que os constitui e regula.

3995- Geralmente são caraterísticos do homem ignorância e impostura.

3996- A ignorância recorre à impostura para se dar importância.

3997- A loucura nos velhos é mais extravagante que nos moços.

3998- Ninguém sabe amar como a mulher, nem governar como o homem.

3999- Demasiada prudência atormenta e tiraniza.

4000- Injurias deorum diis cura! disse Tiberio no senado romano; o mesmo cumpre dizer aos loucos, que se erigem em vingadores de Deus, pelos erros e ofensas contra ele cometidos.

4001- Nem sempre é velhaco quem o quer ser: nem todos têm habilidade para isso.

4002- Devemos congratularmo-nos de saber que ignoramos infinito; teremos de aprender eternamente, com variados corpos, em inumeráveis mundos.

4003- Entramos, pela vida, no espetáculo imenso do universo; saímos, pela morte, que anula a nossa existência e individualidade humana.

4004- O mundo antolha-se diverso aos viventes que nele se criam, segundo a variedade misteriosa da sua organização e estrutura dos seus sentidos. O mundo não é para os peixes o mesmo que para os homens.

4005- Não há pensamento nobre ou sublime que, direta ou indiretamente, não tenha referência a Deus.

4006- A importância que a vida confere aos homens inteiramente lha arrebata a morte, rompendo-lhes as relações com a sociedade e o mundo circunstante.

4007- Não só os bens provêm de Deus, mas também os males, como ocasião e instrumentos de bens.

4008- Homens há que se tornam gravemente incômodos e importunos, à força de quererem passar por muito civis, obsequiosos e prestadios.

4009- Os moços são tão fáceis como os velhos, emperrados em resolver-se.

4010- Uns gozam pouco do que lhes custou muito trabalho; outros nimiamente do que nada lhes custou.

4011- A bem-aventurança eterna deve ser uma felicidade progressiva, ilimitada e insaturável; não como a temporal, limitada e alternada com males.

4012- Deus é a minha esperança; nunca em sua bondade eu esperei em vão.

4013- Quem não desconfia de si desmerece a confiança dos outros.

4014- Os trabalhos são bons amigos, quando deixam uma experiência útil e bem aproveitada.

4015- Os prazeres encantam porque passam e se sucedem com variedade e novidade. Tomai-os uniformes e permanentes, adeus sabor e deleite.

4016- Pode a virtude ser perseguida, mas nunca desprezada.

4017- Que resta dos grandes homens? Pouca terra e alguns ossos.

4018- Só pode avaliar ao sábio um sábio igual a ele.

4019- Mendigar, para quem não tem vergonha, é mais comezinho que trabalhar.

4020- Homens há, dignos de imortal memória; lembrados ausentes, presentes esquecidos.

4021- Muito pouco se padece na vida, em comparação do que se goza: aliás como se viveria?

4022- Os que se queixam da vida, quereriam melhorá-la, mas perdê-la, não.

4023- A morte é sono que principia para mais não acabar.

4024- A civilização nos povos multiplica os prazeres sensuais e intelectuais.

4025- As mercês honoríficas mais valiosas chegam de ordinário aos maiores servidores do Estado quando, por sua proveta idade e por seu saber, já nem têm gosto nem vaidade para as apreciar segundo a opinião geral; e para alguns, antes são multas que graças. (sic)

4026- Se as circunstâncias reclamassem a sua parte nos altos feitos e produções dos homens ilustres, que lhes restaria de sua glória?

4027- Quantas vezes os vícios contribuem para alimentar a virtude, dando exercício ao trabalho de homens probos que os não têm!

4028- Não poderíamos pensar, se previamente não sentíssemos: é a faculdade de sentir que ministra os materiais para o exercício de pensar: o pensamento é subseqüente ao sentimento.

4029- A oposição e divergência de opiniões, em matérias políticas e religiosas, formam parcialidades e seitas, e afinal se resolvem na guerra civil.

4030- O coração corrige muitos erros do espírito, e o espírito muitos extravios do coração.

4031- Depois de idealizarmos o mundo material, blasonamos de espiritualistas.

4032- Surgem, no jogo da vida humana, inumeráveis mistérios, que só podem explicar-se dizendo-se como o vulgo: altos juízos de Deus.

4033- O coração protesta contra muitas das opiniões e doutrinas do espírito humano.

4034- Os tolos são cifras; mas, acompanhando os velhacos, que aliás senão unidades, tornam-nos dezenas, centenas e milhares.

4035- Não existe entidade no universo que não seja ao mesmo tempo agente e paciente.

4036- Fazer da pobreza virtude é hostilizar a riqueza, que ministra à caridade os recursos do que carece.

4037- A pobreza é estéril; não assiste nem promove a caridade.

4038- É necessário que os homens doidejem muitos anos, para chegarem algum dia a ter juízo.

4039- Se por felicidade se entende uma fruição perene, e não interpolada por males, deveres e mágoas, não existe no mundo em que vivemos.

4040- O universo está impregnado da ação e essência divina, como o ferro em brasa do fogo que lhe dá calor e o torna luminoso.

4041- Deus é o único agente que também não seja paciente; por isso, inalterável, impassível e inofensivo.

4042- As grandes alegrias confinam ordinariamente com gravíssimos males e desgostos: é a alternativa do bem e do mal.

4043- Tão remissos são os mandriões em servir e executar como ativos em mandar.

4044- Não tem fita o livro inglês, mas ao francês, é indefectível.

4045- Todos os bens da minha vida me vieram de Deus: os homens foram instrumentos de sua paternal bondade para comigo. Mil graças lhe sejam dadas!

4046- Deus se revela nos espíritos, como na matéria; mas sem esta não podem as inteligências manifestar-se.

4047- Os erros e imprudências da mocidade ocasionam graves males na velhice!

4048- O juízo vulgar não eleva os homens à eminência nas belas-artes e ao heroísmo: é necessária certa dose de loucura, que, afastando-os do ramerrão, lhes confira superioridade de engenho e singularidade de caráter.

4049- Quando o contingente chega à existência, é porque esta se tornou, pelos antecedentes, necessária.

4050- Aprendemos gozando, muito mais padecendo.

4051- Avistamos a Deus na infinda variedade das obras do homem: a inteligência que lhe foi conferida é também criadora de grandezas intelectuais, que bem demonstram a divina origem donde derivam.

4052- Economia de cabedal, trabalho e tempo é o primeiro problema nas obras da indústria.

4053- No Brasil não se podem emprestar livros: os que os recebem, consideram-nos dados e não emprestados.

4054- Com riqueza, ciência e probidade, só não sobe alto quem não quer subir.

4055- É raro conhecerem-se os sábios, porque estes têm sumo cuidado, por cálculo, em ocultar que são.

4056- O infinito máximo compõe-se dos infinitos mínimos: ambos constituem o imenso universo, que Deus criou, anima, vivifica, em que se revelam, simbolizam e figuram os seus divinos atributos de infinita sabedoria, poder, bondade, justiça e providência.

4057- Confundimos muitas vezes o bem com o mal, porque um e outro ocasionam ordinariamente o seu contrário.

4058- Enquanto temos medo de Deus, não o conhecemos: principiamos a conhecê-lo quando principiamos a amá-lo, pela fruição refletida, estudo e admiração das suas obras.

4059- O inferno existe em uma família discorde quando marido e mulher se aborrecem cordialmente.

4060- Nas obras inglesas de inteligência e indústria, a utilidade prevalece à elegância; nas francesas, sucede o contrário.

4061- São numerosos os modos de padecer; inumeráveis os de gozar.

4062- Há certas mulheres que têm uma voz hermafrodita, parte masculina, parte feminina: são intoleráveis sendo loquazes e iracundas.

4063- Ninguém tanto despreza os homens e os povos como aquele que mais os lisonjeia.

4064- Os sábios nunca acharam admiradores: néscios, visionários, velhacos e impostores, numerosíssimos têm tido em toda a parte.

4065- Os moços são mais indulgentes com os velhos do que estes com aqueles. Os moços perdoam as impertinências dos velhos; estes não toleram as imprudências daqueles.

4066- A variedade do procedimento e dos atos dos homens e dos povos é tal que não há quem os possa compreender e historiar.

4067- As honras não excluem a honra, mas também não a pressupõem necessariamente.

4068- Pela fácil credulidade das inteligências se pode graduar a sua mediocridade.

4069- Somos criaturas de Deus, e temos, como tais, a forma e selo da divindade.

4070- Muitas das minhas máximas, que menos inteligíveis parecem, explicam-se por outras que lhes servem de comentário.

4071- Custa pouco aos monarcas ganhar corações e converter inimigos; bastam poucas palavras de benevolência e pequenos símbolos de distinção.

4072- Na decrepitude achacada, custa mais a entreter a vida do que ela vale.

4073- Dizemos muito, falando pouco, quando sabemos bem os termos próprios da nossa língua.

4074- Vires acquirit eundo, diz-se de um rio, outro tanto se pode dizer dos espíritos, na sua eterna viagem por mundos inumeráveis, com variados corpos adaptados a seus diversos sistemas.

4075- Os velhos ilustrados gozam de prazeres especiais, que ainda aos moços não são permitidos. O seu longo pretérito com o mundo e suas produções idealizadas na mente lhes ocupa o pensamento e lhe ministra materiais para profundas meditações e invento de novas e importantes verdades e relações, na leviana idade juvenil, distraída com os prazeres sensuais e presentes, lhes não houveram podido ocorrer.

4076- Frugalidade e sobriedade conferem saúde, vigor e alegria.

4077- Tenho conhecido distintamente as quatro idades da vida. A velhice tem sido especialmente sentida, e estudada por mim com profunda reflexão. Transpôs ela os ordinários términos, sem deteriorar consideravelmente o meu entendimento, mas atormentando o meu corpo com sucessivas e penosas moléstias, que me fazem impacientemente desejar a morte, como remédio único de tão graves males.

4078- Os homens, para lhes agradarmos, obrigam-nos a mentir; a máxima parte da civilidade são mentiras aprazíveis, de convenção.

4079- Explicam-se com a palavra circunstâncias todos os atos pessoais e eventos sociais, no jogo da vida humana.

4080- A velhacaria requinta na velhice, tanto quanto é peca na mocidade.

4081- As sociedades modernas rejeitam a doutrina velha de padecer neste mundo para no outro gozar. É uma das causas principais da fermentação e movimento geral da humanidade para novas instituições civis e políticas, e melhoramentos morais e materiais dos povos.

4082- O riso do néscio é longo e ruidoso; breve e silencioso o sorriso do sábio.

4083- Avistamos muito, mas pouco distinguimos no imenso e complexo jogo da natureza.

4084- Não é a ciência como o ouro, que tanto perde em solidez quanto ganha em extensão.

4085- Um grande engenho não se pode ocultar; reluz nos olhos, e tem todas as feições do rosto transparente.

4086- Seriam mudos os meninos, se as mulheres não fossem loquazes.

4087- Deus se generaliza em todo o universo, e de algum modo individualiza os seus divinos atributos nas obras da natureza, revelação autêntica da sua infinita sabedoria.

4088- A entidade que compreende um todo não pode ser compreendida por suas partes.

4089- Como as baleias nos vastos oceanos da terra, são os astros e os mundos viventes criaturas que se movem pelo oceano imenso do éter celestial.

4090- Sem filosofia não há sabedoria: quem não é filosofo não pode ser sábio.

4091- Sem o mal físico não existiria o mal moral; do que se conclui que o autor do primeiro é também indiretamente o do segundo.

4092- O crédito em comércio é cabedal que, perdido, nunca mais se restaura.

4093- Para os benfeitores imprudentes ou interesseiros, a gratidão dista pouco da aversão.

4094- A ingratidão é o vicio dos vilões, e repugna às almas nobres.

4095- Tudo no universo é movimento e ação. Toda a alteração ou mudança ocasiona um fenômeno ou produto novo. Pode portanto dizer-se que tudo, com variedade e novidade, se remoça na criação universal. Tal é a sabedoria infinita do supremo ente, criador de tudo.

4096- Consiste a felicidade em não sofrer: quando se não sofre, goza-se; que o simples e natural exercício dos nossos sentidos, faculdades corporais e mentais, confere fruição e felicidade.

4097- O abuso do crédito conduz à bancarrota.

4098- O gênero humano nem é, nem jamais será, capaz de um verdadeiro sistema de filosofia ou medicina.

4099- Juízo é ordem: loucura, desordem.

4100- Nada existe, nas produções da natureza ou nas obras do homem, sem um prévio ideal que as preceda, determine ou tenha determinado.

4101- Mais tolerável é moço imprudente que velho impertinente.

4102- É na natureza, o bem, universal; o mal, individual.

4103- Mais e melhor nos recordamos na velhice do que fomos e fizemos na meninice.

4104- Há defeitos que embelezam o semblante e caracteres.

4105- Os homens não nos levam em conta aquilo que, por vergonha ou modéstia, padecemos: antes nos acusam de acanhados e noviços, e assim promovem a proterva e desvergonha.

4106- Mais se comprovam a ignorância e loucura dos homens por certas doutrinas que professam do que pelos atos e obras que praticam.

4107- O ideal, em Deus, é primitivo; nos homens é subseqüente ao realismo ou execução mecânica e material.

4108- Os velhos devem banhar-se freqüentemente, como as flores ter o pé na água, para não murcharem tão cedo.

4109- Explicai o acaso e o fatalismo pela providência divina, e tereis resolvido grandes problemas sobre a natureza, sorte e condição humana.

4110- As flores e frutas que mais cheiram são as que mais cedo murcham e apodrecem. Uma emissão copiosa de partículas sutis as enfraquece, deteriora e consome.

4111- Quase tudo depende das circunstâncias de tempo e lugar, nas ações, feitos, opiniões e crenças dos homens neste mundo sublunar.

4112- Para exercício, ocupação, utilidade e recriação da nossa alma, enquanto unida ao corpo vivente, neste mundo em que existimos, é que idealizamos o universo visível e o resumimos de um modo misterioso.

4113- Louvamos a sinceridade nos homens, mas não a invejamos.

4114- Extinta a individualidade humana, a morte lhe salda as contas.

4115- Os néscios caluniam a Deus, os sábios os desmentem.

4116- A forma e colocação das sementes nos frutos são tão variadas e maravilhosas, que, bem ponderadas, exaltam a sublime noção que os homens têm da incomensurável sabedoria e poder de Deus.

4117- A imaginação tem contribuído tanto para enganar os homens como a razão para os desenganar: a primeira é fabulista, a segunda realista.

4118- Deus, autor do amor paterno e materno, amará as suas criaturas vivas, sensíveis e inteligentes, menos do que os pais amam seus filhos? Não. Tais criaturas, antes de existirem, tiveram o seu tipo ideal e primitivo em Deus, e por isso uma paternidade divina que não pode deixar de amar suas obras, produções da sua infinita sabedoria, poder e bondade.

4119- Os sábios são tais, menos pelo que dizem do que pelo que calam.

4120- O silêncio dos sábios é a censura dos povos.

4121- Os velhacos nem sempre são tais; padecem também muitas vezes por tolos.

4122- Os maus são ordinariamente muito ativos em dano seu e dos outros homens.

4123- Os maus e velhacos gozam ordinariamente mais em fantasia do que na realidade.

4124- Quando os povos querem mandar e governar, os sábios se despedem.

4125- A benevolência é incerta sem a beneficência que a demonstra e completa.

4126- A benevolência é estéril sem a beneficência que a faz profícua.

4127- A faculdade de pensar é provocada pela de sentir; cessando esta, acaba aquela.

4128- Avistamos muito e descobrimos pouco; o universo é imenso, a nossa inteligência muito limitada.

4129- Afiamos a língua no rebolo da maledicência e censura, e a embotamos nos dos encômios e louvores.

4130- As revoluções populares dão importância a pessoas que seriam eternamente insignificantes sem elas.

4131- Se déssemos aos pobres tudo o que possuímos, eles não ficariam ricos, e nós cairíamos na penúria e miséria de que quiséssemos salvá-los.

4132- Sem corpo não há sentir nem pensar, gozar nem sofrer.

4133- No jogo, movimento e ações dos homens, no teatro deste mundo, ocorrem freqüentes dúvidas sobre a providência divina, que a razão, por muito limitada, não pode resolver, ciente todavia de que tudo foi previsto, coordenado e regulado por Deus para o maior bem geral e particular da espécie humana.

4134- A sociedade educa os homens, a natureza as mulheres.

4135- O instinto pode mais nas mulheres do que a educação nos homens.

4136- As mulheres são mais sensíveis, os homens, mais racionais.

4137- A sensibilidade nervosa está na razão inversa da força muscular.

4138- A sensibilidade nervosa é tanto menor nos homens, quanto maior é a sua força muscular.

4139- A mocidade dura muito tempo; é crescimento, expansão e plenitude: a velhice atura pouco, sendo contração, decadência, deterioração e morte.

4140- Não sabemos o que seja a matéria em abstrato e em substância; só a conhecemos em sua forma concreta, figurada e fenomenal, sendo por isso perceptível aos nossos sentidos corporais e capaz de ser idealizada com representações correspondentes aos objetos materiais que fizeram impressão sobre nós.

4141- É tal a variedade das obras de Deus que não existem nem talvez possam existir duas entidades, coisas ou casos perfeitamente iguais ou semelhantes.

4142- Todos se acusam ou se queixam de pouco dinheiro, nenhum de pouco juízo.

4143- Os que quiserem ser sábios em um ano leiam com atenção as considerações sobre as obras de Deus no reino da natureza e da providência para todos os dias do ano, pelo alemão Sturm. Esta obra acha-se traduzida nas línguas inglesa e francesa.

4144- Se tudo está relacionado no universo e feito com desígnio, propósito, destinação e aplicação, nada é vago e contingente, mas necessário e fatal.

4145- Sempre nos avaliamos mais caros do que os outros homens nos avaliam.

4146- Há relações e verdades tão importantes natureza, que a descoberta de uma dá ocasião à de muitas outras correlativas.

4147- As revelações mais importantes e genuínas são as que provêm do estudo da natureza, obra assombrosa e testemunho autêntico da infinita sabedoria, poder e bondade de Deus.

4148- A liberdade não consiste só no querer, mas também em podermos executar o que queremos.

4149- Tudo o que é não podia deixar de ser: supostos os antecedentes que determinaram a sua existência, o contingente realizado torna-se necessário.

4150- A sede dos nossos maiores males na velhice é ordinariamente o órgão, entranha ou parte do nosso corpo de que mais abusamos nas idades antecedentes.

4151- No exercício da vida, querendo gozar o mais e sofrer o menos possível, os melhores calculistas são os homens bons e virtuosos; os piores, os maus e viciosos.

4152- Há muita gente que morre embebida nos vícios e prazeres da vida, como as formigas e outros insetos na calda do açúcar.

4153- No exercício da vida, os homens, assim como os outros viventes, procuram gozar e não sofrer, os fins são os mesmos, mas os meios de consegui-lo muito diversos.

4154- Os vícios encurtam a vida, as virtudes a prolongam.

4155- Queixamo-nos dos homens, mas não das circunstâncias que os obrigam, e por freqüentes vezes, a ser o que são.

4156- O ideal do universo existia em Deus antes da sua criação, como existe na imensa capacidade da mente divina tudo o que tem de realizar-se simultânea e sucessivamente no espaço e tempo por toda a eternidade.

4157- O temor difere muito do medo: teme-se a justiça de Deus, Criador e benfeitor do gênero humano; mas tem-se medo do que é mau, cruel, maligno, mal-intencionado e malfazente, como os homens imaginam e qualificam a Satanás ou o diabo.

4158- O bonito é geralmente diminutivo, o belo aumentativo.

4159- O que não tem extensão não pode ter localidade, movimento, ação nem relações no espaço concreto e universal da natureza.

4160- A filosofia do panteísmo resume tudo em Deus e deriva tudo de Deus: no primeiro caso, pelo idealismo; no segundo, pelo realismo.

4161- O nosso corpo é o telégrafo da nossa alma; significa exteriormente o que ela sente, pensa e quer. São numerosos os modos desta significação; mas o principal é a palavra.

4162- O oficio de reinar tem perdido muito do seu antigo esplendor e vantagens: na Europa agitada, os diademas se convertem em coroas de espinhos, e os cetros em varas de escorpiões.

4163- O que não tem extensão não pode ter localidade no espaço. Onde pois existe?

4164- O sono da morte exclui os sonhos e pesadelos da vida.

4165- A nação de espírito é talvez a maior das abstrações do entendimento humano.

4166- Em toda a minha vida me tenho enganado com os homens, supondo-os com mais juízo, ciência e probidade do que eles têm realmente.

4167- Na contemplação de sua infinita bondade e beneficência consiste talvez a principal parte da felicidade pleníssima de Deus, Criador do universo. Sem dúvida a criação foi devida ao sentimento e desejo de fazer felizes criaturas a quem Deus conferiu o ser e faculdades para gozarem, no decurso da vida individual, dos prazeres que ele predestinou, na sua infinita sabedoria, para as felicitar com a fruição das suas obras maravilhosas que ocupam a imensidade do espaço.

4168- A literatura inglesa deve servir de antídoto à francesa: esta vicia, aquela moraliza os seus cultores.

4169- Os pobres divinizam a sua pobreza para se consolarem de não serem ricos.

4170- Sofre grande desfalque o cabedal do moço, porque não sabe; do velho, porque não pode.

4171- Quem fala despende, quem ouve aprende.

4172- A morte quebra em cada homem um tipo de forma especial, que não terá mais cópia ou igual em toda a espécie humana.

4173- A velhice anula muitas relações dos homens entre si e com o mundo exterior; a morte finalmente todas.

4174- A virtude tem alguma coisa rude e agreste que a faz desagradável sem o polimento e verniz que lhe dá a civilidade.

4175- A eternidade se releva no tempo, a imensidade, no espaço, e o infinito no limitado: Deus é a eternidade, a imensidade e o infinito.

4176- Como a flor dobrada é mais formosa do que a singela, assim a vida dobre dos amantes e amigos é mais feliz do que a simples e individual.

4177- Homens há que se consomem como os fogos de artifício, ardendo, luzindo e iluminando.

4178- A beneficência habitual e bem empregada é produtiva de retribuições correspondentes no futuro.

4179- A vaidade convive com o amor-próprio e o acompanha freqüentemente.

4180- Em matérias e opiniões políticas e religiosas, os velhos são mais intolerantes do que os moços.

4181- Uma aureola de glória cinge a cabeça do sábio que ilustrou com seus escritos sua pátria, sua nação e o gênero humano, contribuindo para o seu melhoramento civil, moral, político, e religioso.

4182- Ninguém sai da companhia de um homem douto e sábio que não tenha aprendido dele algumas verdades importantes.

4183- A vaidade é um elemento muito importante da humana felicidade.

4184- A imaginação será a mesma memória, enquanto inventiva e criadora?

4185- A imaginação tem sido e é a mais fecunda das entidades fabulosas boas e más, que infestam as crenças e religiões deste mundo.

4186- O engenho é tão raro, como vulgar o juízo.

4187- A imaginação supõe invenção, a memória a excluí: esta porém lhe ministra os materiais para o seu trabalho de criações novas.

4188- Que capacidade imensa a da mente divina, compreendendo o ideal de tudo o que existiu, existe e há de existir por toda a eternidade, no espaço infinito e no tempo ilimitado da criação universal!

Meu epitáfio

Aqui jaz o corpo apenas

Do marquês de Maricá:

Quem quiser saber-lhe da alma

Nos seus livros a achará.